Número de vítimas de minas terrestres no mundo aumentou em 2023, segundo relatório
O número de vítimas de minas terrestres, ou minas antipessoais, aumentou no ano passado em todo o mundo, segundo um relatório publicado nesta quarta-feira (20), em um contexto de preocupação entre as organizações anti-minas pela decisão dos Estados Unidos de fornecer estes dispositivos à Ucrânia.
Minas e resíduos explosivos de guerra (REG) mataram ou feriram pelo menos 5.757 pessoas no ano passado (ante 4.710 vítimas em 2022), 84% delas civis, em cerca de 50 países, de acordo com o relatório anual do Observatório de Minas Antipessoais.
O número de vítimas, 20% a mais que no ano anterior, ascende a 1.983 mortos e 3.663 feridos, aos quais se somam outras 111 vítimas sobre as quais não está indicado se sobreviveram.
Somente as minas terrestres fizeram 833 vítimas, em comparação com 628 no ano anterior.
Mianmar foi o país com mais vítimas de minas terrestres e munições não detonadas, com mais de 1.000 pessoas mortas ou feridas, à frente da Síria (933), que liderou o ranking durante três anos, seguida pelo Afeganistão (651), Ucrânia (580) e Iêmen (499).
A publicação deste relatório coincide com o anúncio dos Estados Unidos de que irão fornecer à Ucrânia minas antipessoal com o objetivo de reforçar as suas defesas contra a invasão russa.
A Campanha Internacional para a Proibição de Minas Antipessoais (ICBL) descreveu, nesta quarta-feira, como "terrível" a decisão tomada pelo governo de Joe Biden, que busca impulsionar o esforço de guerra da Ucrânia nos últimos dois meses do seu governo, antes que Donald Trump, um crítico da ajuda à Ucrânia, tome posse em janeiro.
"A Ucrânia deve afirmar claramente que não pode e não aceitará estas armas", escreveu a organização em uma nota enviada à AFP.
- Territórios contaminados com minas -
As minas terrestres são dispositivos explosivos que continuam matando e mutilando pessoas muito depois do fim dos conflitos. Enterradas ou escondidas no solo, explodem quando uma pessoa se aproxima ou entra em contato com elas.
O relatório não cita vítimas nas Américas, mas indica que o México relatou em 2022 o uso de dispositivos explosivos improvisados e minas artesanais por cartéis de drogas no estado de Michoacán. Indica que a Secretaria de Defesa Nacional enviou soldados à área em fevereiro de 2022 para eliminar esses artefatos explosivos.
A Colômbia reportou no final de 2023 4,47 quilômetros quadrados contaminados com minas antipessoais em 71 municípios de 14 departamentos, usadas principalmente pelos dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
De acordo com o relatório, Equador e Peru também têm um pequeno vestígio de contaminação por minas da Guerra de Cenepa de 1995.
Em Mianmar, décadas de conflitos esporádicos entre militares e grupos étnicos rebeldes deixaram o país do sudeste asiático repleto de minas terrestres e munições.
Mianmar não é signatária da convenção da ONU que proíbe o uso, armazenamento ou desenvolvimento de minas antipessoais.
Segundo a ONG, houve um "aumento significativo" no uso de minas antipessoais pelo exército birmanês no último ano, em que se intensificou o conflito com grupos rebeldes e opositores ao golpe de Estado militar de 2021.
Os autores do relatório afirmam que os militares chegaram a colocar estas armas perto de infraestruturas, como torres de telefonia móvel e dutos de combustível.
(A.Johnson--TAG)