Clima, guerras, Trump: G20 sob pressão na abertura da cúpula no Brasil
Os líderes do G20 iniciam nesta segunda-feira (18) uma reunião de cúpula no Rio de Janeiro sob pressão para alcançar um acordo na COP29, em um cenário mundial de fortes divisões provocadas pelas guerras na Ucrânia e em Gaza, assim como pelo retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.
Os governantes das principais economias do planeta, que representam 85% do PIB mundial e 80% das emissões de gases do efeito estufa, tentarão avançar em particular no financiamento da luta contra as mudanças climáticas.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu no domingo que os participantes mostrem sua "liderança" e façam "concessões" para permitir "um resultado positivo na COP29", a conferência sobre o clima que acontece em Baku (Azerbaijão), onde as negociações continuam estagnadas.
"O fracasso não é uma opção", disse Guterres, enquanto o mundo segue em uma trajetória para quebrar outro recorde de temperatura global.
O Brasil reafirmou no sábado que os países emergentes se recusam a contribuir para o financiamento climático, mas espera que um avanço no G20 ajude a destravar o diálogo em Baku, segundo uma fonte diplomática.
A reunião de cúpula anual, que mais uma vez acontece com a ausência do presidente russo, Vladimir Putin – representado por seu chanceler, Serguei Lavrov –, terá as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio como temas inevitáveis, embora os conflitos não constem da agenda oficial do evento.
Depois que a Ucrânia sofreu no fim de semana um dos maiores ataques russos dos últimos meses, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, autorizou Kiev a utilizar mísseis americanos de longo alcance contra alvos militares na Rússia, informou à AFP uma fonte de alto escalão em Washington.
- A agenda social de Lula -
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anfitrião do evento, alertou, no entanto, que o Brasil não quer concentrar os debates nas guerras.
"Eu fiz questão de não trazer a guerra para o G20, porque senão nós não iremos discutir outras coisas que são importantes para um povo que não está em guerra, que é o povo pobre", disse o presidente, um aliado do Ocidente que, ao mesmo tempo, mantém uma boa relação com Putin no domingo ao canal Globonews.
Lula vai lançar nesta segunda-feira uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que reunirá países e instituições internacionais para liberar recursos de combate aos flagelos.
Ele também espera avançar em outra ideia promovida pela presidência brasileira do G20: um imposto global para os "super-ricos", que já recebeu o aval dos ministros das Finanças para uma "cooperação" sobre o tema.
- O fator Milei -
O encontro de cúpula tem uma incógnita sobre a posição da Argentina. O presidente do país, o ultraliberal Javier Milei, se opõe ao que chama de "agenda 'woke'" do multilateralismo e ordenou a saída de sua delegação das negociações climáticas em Baku.
No G20, as negociações prévias entre os "sherpas" dos países resultaram no rascunho da declaração final, que será submetido aos chefes de Estado e de Governo, explicou uma fonte diplomática brasileira.
Mas Buenos Aires apresentou algumas objeções e não tem que "necessariamente" assinar o texto, indicou à AFP o chefe da delegação do país, Federico Pinedo, sem detalhar os pontos de divergência.
Esta será a primeira cúpula do G20 de Milei. O argentino é um grande aliado de Trump, a quem visitou na semana passada na Flórida.
- Xi quer reforçar o Sul global -
Esta será a última reunião do G20 Biden, antes de ceder o poder a Trump em janeiro.
O presidente americano fez uma visita histórica à Amazônia no domingo para reforçar o compromisso dos Estados Unidos na luta contra o aquecimento global e apresentar um desafio a Trump, que promete reverter suas políticas ambientais.
"Alguns podem tentar negar ou adiar a revolução da energia limpa que está em curso nos Estados Unidos. Mas ninguém, ninguém pode revertê-la", disse o democrata.
Biden se reuniu no sábado em Lima (Peru) com o presidente chinês Xi Jinping, outro protagonista da cúpula do G20 e personagem crucial na reconfiguração do tabuleiro político mundial com o retorno de Trump ao poder.
Após a reunião de dois dias, Xi se reunirá com Lula em Brasília em um encontro que pretende reforçar os laços entre os dois países do chamado Sul global.
"Entramos em um cenário global muito mais imprevisível, mas também com muito mais espaço para que os países do Sul (...) articulem suas próprias visões", destaca Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas.
(W.Walker--TAG)