Centro educacional da ONU na Cisjordânia teme por seu futuro e por jovens palestinos
Em um superlotado campo de refugiados na Cisjordânia ocupada, o centro educacional da UNRWA representa um oásis para os jovens palestinos, mas seu futuro está ameaçado desde que Israel proibiu as atividades dessa agência da ONU.
Nas instalações do centro de formação profissional no campo de Qalandiya, perto do muro que separa a Cisjordânia de Israel, aprendizes de encanador montam tubulações, futuros eletricistas instalam fios e carpinteiros em formação constroem um telhado.
Mas o aprendizado ds profissões pode acabar em breve para estes adolescentes palestinos: em outubro, o Parlamento de Israel proibiu a UNRWA de operar em território israelense.
A Ahmed Nasif, um refugiado de 18 anos, teme pelo futuro se o centro de formação precisar fechar por causa dessa lei.
"Muitos colegas ficariam sem ocupação, alguns não têm meios financeiros para estudar em outras escolas", disse ele à AFP durante uma aula em que aprende a montar lâmpadas. "Aqui a formação é quase gratuita", esclarece.
Um pouco mais à frente, algumas meninas palestinas fazem voltas ao som dos apitos de sua professora de educação física no pátio de uma escola primária, também administrada pela UNRWA.
Na parede, um grafite em árabe, cercado por desenhos de borboletas e flores, proclama: "Amo minha linda escola".
Jonathan Fowler, porta-voz da UNRWA em Jerusalém, alerta para as consequências socioeconômicas "potencialmente desastrosas" de um possível fechamento, mesmo que parcial, das atividades da agência.
"Se esses serviços não puderem funcionar (...) quem fornecerá educação para as crianças e os adolescentes deste campo?", pergunta.
Segundo Baha Awaad, diretor do centro, a instituição forma 350 alunos e não pode receber mais devido à falta de autorização para ampliar os prédios.
O que será deles se a escola tiver que fechar? "Se for um fechamento permanente, eles ficarão sem opções", lamenta.
- Coluna vertebral -
É difícil encontrar uma alternativa à UNRWA, que iniciou suas operações na região em 1950, da noite para o dia.
"Não se pode simplesmente apertar um botão e fazer desaparecer a UNRWA para que alguém ocupe seu lugar", destaca Fowler.
"A lei é muito vaga em muitos pontos. Qual seria o objetivo? Como seria implementada? Tudo isso ainda é extremamente incerto", enfatiza.
As autoridades israelenses foram muito críticas em relação a essa agência da ONU durante muito tempo.
Suas relações deterioraram-se gravemente após o início da guerra em Gaza. Israel acusou funcionários da UNRWA de terem participado no ataque perpetrado pelo movimento islamista palestino Hamas em seu território em 7 de outubro de 2023.
A UNRWA é a coluna vertebral das operações humanitárias a favor dos palestinos.
Nos 19 campos onde, segundo a UNRWA, vive atualmente um quarto dos 912.000 refugiados da Cisjordânia, muitos dependem dos diversos serviços oferecidos pelos 3.800 funcionários da agência.
É o caso de Ahmed Nasif, que, antes de se juntar ao centro de formação profissional da UNRWA, passou por uma escola secundária da agência e também recebeu atendimento médico em uma de suas clínicas.
"A situação é particularmente difícil para a clínica, da qual muitas pessoas dependem para medicamentos e tratamentos", relata.
"Se fechar, ficarão sem esses serviços", lamenta.
(J.Torres--TAG)