Referendo sobre a UE na Moldávia tem vitória apertada do 'Sim'
Os moldávios aprovaram por margem apertada o objetivo de blindar o processo de adesão à União Europeia (UE) na Constituição, em um referendo acirrado que levou a presidente do país, a europeísta Maia Sandu, a denunciar interferências estrangeiras, em uma referência velada à Rússia.
De modo paralelo ao referendo, a Moldávia também celebrou eleições presidenciais no domingo. Sandu, economista de 52 anos, foi a mais votada no primeiro turno, mas precisará disputar um segundo turno difícil.
Na primeira reação oficial, no domingo à noite, a presidente Sandu denunciou um "ataque sem precedentes contra a democracia".
Nesta segunda-feira, a presidente afirmou que seu campo "venceu justamente em uma disputa injusta", tanto no referendo da UE quanto no primeiro turno das eleições presidenciais.
"Vencemos a primeira batalha em uma luta difícil que determinará o futuro do nosso país. Nós lutamos de forma justa e vencemos de forma justa em uma disputa injusta", afirmou Sandu em um vídeo, no qual convoca as pessoas a votar no segundo turno do próximo mês.
O Kremlin exigiu "evidências" das "graves acusações" e denunciou "anomalias" na contagem dos votos do referendo organizado na ex-república soviética fronteiriça com a Ucrânia.
A Comissão Europeia afirmou que a eleição presidencial e o referendo de domingo na Moldávia aconteceram em meio a uma "interferência sem precedentes" da Rússia.
"Tomamos nota de que esta votação ocorreu sob interferência e intimidação sem precedentes por parte da Rússia e dos seus aliados para desestabilizar o processo político moldávio", disse o porta-voz da Comissão, Peter Stano.
Durante boa parte da apuração, o 'Não' liderou a disputa do referendo, mas os votos da diáspora mudaram o resultado final. Após a contagem de 99% dos votos, o 'Sim' tem uma leve vantagem, com 50,28% dos votos, informou a autoridade eleitoral.
"Grupos criminosos, que atuam em comum acordo com forças estrangeiras hostis aos nossos interesses nacionais, atacaram o nosso país com dezenas de milhões de euros, mentiras e propaganda, para fazer nosso país cair na incerteza e na instabilidade", denunciou Sandu.
A Moldávia, com 2,6 milhões de habitantes, fica entre Romênia e Ucrânia, país invadido por Moscou em fevereiro de 2022. A nação tem uma região separatista pró-Rússia no sudeste de seu território, chamada Transnístria, que abriga uma guarnição de soldados russos.
- Segundo turno difícil -
Sandu, que virou as costas a Moscou após a invasão russa da Ucrânia, apresentou a Bruxelas, sede do Executivo europeu, a candidatura de seu país para integrar a UE. Ela convocou o referendo para validar sua estratégia, mas sua estratégia bateu em um muro.
Sem colocar em dúvida as negociações de adesão com os 27 Estados-membros, a vitória apertada "enfraquece um pouco a imagem pró-europeia da população e a liderança de Maia Sandu", comentou o cientista político francês Florent Parmentier, especialista na região.
A presidente da Moldávia tornou-se em 2020 a primeira mulher a ocupar um dos principais cargos do país. Em apenas quatro anos, a ex-economista do Banco Mundial com fama de incorruptível tornou-se uma importante figura europeia de destaque.
Antes do referendo, a Moldávia deu motivos de esperança a Bruxelas, em um contexto geopolítico complicado, com a Ucrânia em guerra e a Geórgia acusada de autoritarismo pró-Rússia, destacou o cientista político.
Mas após o resultado apertado, a vitória de Sandu no segundo turno da eleição presidencial, em 3 de novembro, não é uma certeza.
Sandu liderou o primeiro turno, com quase 42% dos votos. No segundo turno, ela enfrentará Alexandr Stoianoglo, candidato de 57 anos apoiado pelos socialistas pró-Rússia, que recebeu 26% dos votos.
O candidato pode receber os votos de muitos candidatos pequenos e "a terrível armadilha do 'Todos contra Sandu'" pode prejudicar a atual presidente, aponta o analista.
Durante a campanha, Stoianoglo pediu a "restauração da justiça" diante de um governo que, segundo a oposição, estava disposto a cortar direitos. Ele também defendeu uma política externa "equilibrada", da UE à Rússia.
(K.Jones--TAG)