EUA: candidatos à vice-presidência se enfrentam em debate ofuscado por Trump
O republicano J.D. Vance e o democrata Tim Walz, candidatos à vice-presidência dos Estados Unidos, discutiram sobre aborto e imigração em seu debate desta terça-feira, mas acabaram voltando repetidamente para um único assunto: Donald Trump.
Vance e Walz se aprofundaram nos detalhes da política mais do que os candidatos à Presidência - Donald Trump e Kamala Harris - em seu debate de setembro.
Mas com Walz atacando Trump, o debate acabou sendo ofuscado pelo bilionário, cujo nome foi citado mais de 80 vezes, mais do que o dobro do de Kamala.
Inicialmente nervoso, Walz levantou cedo o tema da imigração, criticando Vance por propagar histórias falsas sobre imigrantes haitianos.
- Aborto -
Uma das poucas discussões acaloradas foi sobre o aborto, um tema polêmico desde que uma Suprema Corte americana anulou o direito nacional à interrupção da gestação, em 2022.
Vance acusou os democratas de assumirem uma postura pró-aborto radical em apoio ao que chamou de "leis bárbaras". Walz rebateu dizendo que era "pró-mulheres".
O nome de Trump também surgiu quando os adversários discutiram a crise no Oriente Médio, com a primeira pergunta da noite girando em torno do ataque iraniano com mísseis contra Israel.
Walz mirou na política externa de Trump e criticou seu "giro na direção" do russo Vladimir Putin e a retirada dos Estados Unidos do acordo nuclear de 2015 com o Irã.
"Por mais que o governador Walz acuse Donald Trump de ser um agente do caos, Trump, na verdade, entregou estabilidade ao mundo", respondeu Vance.
O debate entre Walz, governador de Minessota escolhido por Kamala Harris como seu número dois, e Vance, senador por Ohio e companheiro de chapa de Donald Trump, pode ter sido o último da campanha eleitoral de 2024.
Trump recusou um segundo embate com Kamala, por isso o desta terça-feira em Nova York na rede CBS deve ser a última possibilidade de ver um embate entre as duas candidaturas.
Vance, 40 anos, e Walz, 60, defendem ser a verdadeira voz dos cruciais estados indecisos do Meio Oeste, que podem decidir por alguns milhares de votos o vencedor dessas eleições, que, segundo pesquisas, seguem empatadas tecnicamente a cinco semanas do pleito.
A história sugere que os debates dos candidatos à vice-presidência raramente influenciam nos resultados mas, em uma campanha eleitoral na qual Kamala Harris substituiu o presidente Joe Biden em meio à corrida, o embate desta terça pode somar pontos.
Ao longo dessa campanha atípica, Vance e Trump utilizaram uma retórica divisiva, o que indica um debate televisivo quente.
"Abrirá o apetite de muita gente para 5 de novembro", disse à AFP Thomas Whalen, professor associado de Ciências Sociais na Universidade de Boston.
Em visita hoje a Wisconsin, um dos estados-pêndulo, Trump sequer mencionou o debate de seu companheiro de chapa, mas afirmou que se estivesse no comando do país, "o ataque de hoje contra Israel nunca teria ocorrido".
Kamala, por sua vez, reiterou seu compromisso "inabalável" com Israel, e disse que apoia "completamente" a ordem de Biden para que o exército americano interceptasse os mísseis iranianos.
A isso se somam os 155 mortos e a devastação provocados pelo furacão Helene em alguns estados da costa leste americana.
Walz e Vance foram escolhidos para atrair os votos nos estados do centro do país, onde, devido ao antigo sistema de colégios eleitorais que elege o presidente, alguns poucos milhares de votos podem definir o vencedor da eleição.
Os dois candidatos a vice são veteranos militares com credenciais sólidas de trabalhadores: Vance é conhecido por ser o autor das memórias "Era uma vez um sonho" (Hillbilly Elegy), e Walz por ser um ex-professor e treinador de futebol americano.
Mas as similaridades acabam aí. Vance compartilha o vício de Trump em criar polêmica, seja difamando as mulheres democratas de preferir os gatos ao invés de ter filhos, ou promovendo as falsas afirmações de que os imigrantes haitianos de uma cidade de Ohio comem os animais de estimação.
(D.Lewis--TAG)