EUA: candidatos à vice-presidência se enfrentam em debate 'de alta intensidade'
O republicano J.D. Vance e o democrata Tim Walz, candidatos à vice-presidência dos Estados Unidos, enfrentavam-se nesta terça-feira (1º) em um debate importante, em que disputam os votos decisivos dos estados-pêndulo do coração dos Estados Unidos.
Os companheiros de chapa do republicano Donald Trump e da democrata Kamala Harris apertaram as mãos no estúdio da CBS Nova York, onde as moderadoras e jornalistas Norah O'Donnell e Margaret Brennan começaram fazendo perguntas aos candidatos sobre a crise no Oriente Médio e o furacão Helene, que causou mais de 155 mortes nos Estados Unidos.
Seguiram-se outros temas, como imigração, mudanças climáticas e aborto, todos abordados na campanha eleitoral, bastante disputada.
O debate entre Walz, governador de Minessota escolhido por Kamala Harris como seu número dois, e Vance, senador por Ohio e companheiro de chapa de Donald Trump, pode ser o último da campanha das eleições presidenciais de 2024.
Trump recusou um segundo embate com Kamala, por isso o desta terça-feira em Nova York na rede CBS deve ser a última possibilidade de ver um embate entre as duas candidaturas.
Vance, 40 anos, e Walz, 60, defendem ser a verdadeira voz dos cruciais estados indecisos do Meio Oeste, que podem decidir por alguns milhares de votos o vencedor dessas eleições, que, segundo pesquisas, seguem empatadas tecnicamente a cinco semanas do pleito.
A história sugere que os debates dos candidatos à vice-presidência raramente influenciam nos resultados mas, em uma campanha eleitoral na qual Kamala Harris substituiu o presidente Joe Biden em meio à corrida, o embate desta terça pode somar pontos.
Ao longo dessa campanha atípica, Vance e Trump utilizaram uma retórica divisiva, o que indica um debate televisivo quente.
"Abrirá o apetite de muita gente para 5 de novembro", disse à AFP Thomas Whalen, professor associado de Ciências Sociais na Universidade de Boston.
Mas as tensões no Oriente Médio e em particular os cerca de 180 mísseis disparados pelo Irã contra Israel - que os interceptou - ameaçam ofuscar o debate.
Nesta terça, durante visita a Wisconsin, um dos estados-pêndulo, Trump sequer mencionou o debate de seu companheiro de chapa, mas afirmou que se estivesse no comando do país, "o ataque de hoje contra Israel nunca teria ocorrido".
Kamala, por sua vez, reiterou seu compromisso "inabalável" com Israel, e disse que apoia "completamente" a ordem de Biden para que o exército americano interceptasse os mísseis iranianos.
A isto se somam os 155 mortos e a devastação provocados pelo furacão Helene em alguns estados da costa leste americana.
Walz e Vance foram escolhidos para atrair os votos nos estados do centro do país, onde, devido ao antigo sistema de colégios eleitorais que elege o presidente, alguns poucos milhares de votos podem definir o vencedor da eleição.
- 'Alta intensidade' -
Os dois candidatos a vice são veteranos militares com credenciais sólidas de trabalhadores: Vance é conhecido por ser o autor das memórias "Era uma vez um sonho" (Hillbilly Elegy), e Walz por ser um ex-professor e treinador de futebol americano.
Mas as similaridades acabam aí. Vance compartilha o vício de Trump em criar polêmica, seja difamando as mulheres democratas de preferir os gatos ao invés de ter filhos, ou promovendo as falsas afirmações de que os imigrantes haitianos de uma cidade de Ohio comem os animais de estimação.
Seu objetivo será superar as pesquisas que inicialmente o colocavam como um dos candidatos a vice-presidente menos populares da história, após a revelação de comentários antigos sobre mulheres e aborto.
"Vance tem que ter cuidado, porque acredito que ele foi vítima de uma armadilha", disse Whalen.
Walz, por sua vez, tentará se apresentar a um público que mal o conhece, após a rápida ascensão de Harris como substituta de Biden na candidatura democrata.
Sua política progressista e o rótulo de "estranhos" que atribuiu a Vance e Trump o promoveram nas fileiras democratas, mas esta será precisamente uma das frentes de ataque de Vance, pois ele e Trump tentam pintar Walz e Kamala como "marxistas".
Os debates televisionados já demonstraram sua capacidade de comoção este ano: Biden foi obrigado a desistir da reeleição após uma atuação desastrosa contra Trump em um debate em junho.
Whalen observa que os Estados Unidos "dificilmente tiveram um debate vice-presidencial que tenha tido alguma diferença significativa" no passado, mas que o confronto desta terça-feira pode ser de “alta intensidade” para os espectadores que gostam de teatro político.
(J.Torres--TAG)