Nobel da Paz iraniana Narges Mohammadi pede fim do silêncio diante da opressão das mulheres
A vencedora do Nobel da Paz iraniana Narges Mohammadi, detida em seu país, fez um apelo nesta segunda-feira à comunidade internacional para "sair do silêncio e da inação" diante da opressão das mulheres do Irã, dois anos depois do início do movimento "Mulher, Vida, Liberdade".
"Eu faço um apelo às instituições internacionais e às pessoas de todo o mundo que adotem medidas ativas", escreveu Mohammadi em uma carta escrita no sábado da penitenciária de Ervin, perto de Teerã, onde está detida desde 2021. A mensagem foi publicada por pessoas próximas à ativista.
"Peço às Nações Unidas que acabem com seu silêncio e inação diante da opressão e discriminação devastadoras dos governos teocráticos e autoritários contra as mulheres, criminalizando o apartheid de gênero", completa a mensagem.
Há dois anos, em 16 de setembro de 2022, a morte sob custódia de Mahsa Amini, uma jovem curda iraniana de 22 anos que havia sido detida pela polícia da moralidade iraniana por suposta violação do rígido código de vestimenta islâmico, desencadeou uma revolta popular inédita no Irã que foi brutalmente reprimida pelo governo.
As manifestantes denunciavam a obrigatoriedade do uso do hijab (que cobre a cabeça) e o conservadorismo religioso em vigor desde a revolução islâmica de 1979.
As marchas, que duraram meses, terminaram com pelo menos 551 mortes e milhares de detidos, alguns executados, segundo ONGs de defesa dos direitos humanos.
Mohammadi, que na mensagem menciona "dois anos terríveis" e "o caminho que resta percorrer", afirma que "nada será como antes" e que "a mudança provoca abalos nos alicerces da tirania religiosa".
"Neste segundo aniversário do 'Mulher, Vida, Liberdade', reafirmamos o nosso compromisso com a democracia, a liberdade, a igualdade e com derrotar o despotismo teocrático", acrescenta Mohamadi, que no domingo anunciou uma greve de fome de 34 presas políticas na penitenciária de Ervin para marcar os dois anos de protestos e do "assassinato" de Mahsa Amini.
A greve, "simbólica" e com a participação da vencedora do Nobel, deveria durar "24 horas", informou à AFP a Fundação Narges.
A ativista de 52 anos recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2023, em particular por seu combate contra a pena de morte.
(O.Garcia--TAG)