Peru rende despedida solene e grandiosa a Alberto Fujimori
Começou neste sábado (14), com uma cerimônia religiosa, a despedida solene do ex-presidente do Peru Alberto Fujimori. O corpo do ex-mandatário será trasladado ao palácio do governo, onde receberá honras de Estado, antes de ser sepultado no cemitério de Huachipa, em Lima.
A cerimônia acontece no Grande Teatro Nacional, com capacidade para 1.500 pessoas e localizado ao lado do Ministério da Cultura, onde o corpo está sendo velado desde quinta-feira.
Somente familiares e amigos próximos tiveram acesso ao prédio, no qual foi montado um altar com rosas brancas e uma imagem do ex-presidente em grande escala.
De origem japonesa, mas popularmente conhecido como "O Chinês", o ex-mandatário (1990-2000) morreu na quarta-feira aos 86 anos em sua casa em Lima, após quatro meses de tratamento contra um câncer na boca, acompanhado por seus filhos Keiko e Kenji.
Sem conter as lágrimas, Kenji elogiou o trabalho de seu pai no governo e lembrou que, na condição de filho, "sempre experimentou uma despedida" enquanto Fujimori ficou preso por 16 anos, antes de ser indultado em dezembro por razões humanitárias.
"O povo reconhece quem é o melhor presidente (...) Fujimori nunca vai morrer!", emocionou-se Kenji. Sua filha Keiko, ex-candidata presidencial, também subiu ao púlpito para honrar o ex-mandatário.
"Finalmente você está livre do ódio e da vingança (...) você está livre desses 16 anos de prisão injusta (...) o povo peruano te absolveu de tanta perseguição", declarou ela, que também é líder do partido fujimorista Força Popular.
Desde cedo, centenas de simpatizantes, com bonecos ou fotos de Fujimori com a faixa presidencial, se aglomeraram em frente ao teatro para prestar homenagens.
Emocionados, entoaram o "ritmo do chinês", canção da última campanha presidencial de Fujimori, ou o refrão "chino valiente aquí está tu gente" (chinês valente, seu povo está aqui).
Este "homem que pacificou o país teve coragem para lutar contra o terrorismo", afirmou Édgar Grados, um comerciante de 43 anos.
"De amanhã em diante, vamos continuar com seu legado, porque o fujimorismo nunca morre; continuará na história com todas suas ideias e trabalho", acrescentou o homem, que afirmou ter viajado mais de 100 quilômetros para se despedir do ex-presidente.
Fujimori havia sido indultado em dezembro por razões humanitárias enquanto cumpria uma pena de 25 anos por homicídio, sequestro e outros graves abusos cometidos por militares em sua luta contra a guerrilha maoísta do Sendero Luminoso.
Com um estilo autoritário e populista, ele enfrentou um período turbulento marcado pela hiperinflação e violência indiscriminada do Sendero Luminoso, que derrotou com sangue e fogo.
Também será lembrado como o presidente que dissolveu o Congresso em 1992 para impulsionar uma Constituição aos seus moldes e, dessa maneira, conseguir a reeleição em duas oportunidades.
- "Sem pedir perdão" -
Fujimori, que chegou ao poder como um 'outsider' ao derrotar o escritor e posteriormente ganhador do Prêmio Nobel Mario Vargas Llosa, em 1990, redefiniu o cenário político do século XXI e até o fim de seus dias polarizou o país.
Apesar da deterioração de sua saúde, Keiko deu a entender em julho que seu pai seria candidato às eleições gerais de 2026.
Durante os 16 anos em que esteve preso, Fujimori sempre defendeu sua inocência. Mas a Justiça o considerou responsável pelos massacres de Barrios Altos e La Cantuta, nos quais 25 pessoas foram executadas a sangue frio por um esquadrão militar em 1991 e 1992.
O conflito interno ou "guerra contra o terrorismo" — como foi oficialmente denominado — deixou mais de 69 mil mortos e 21 mil desaparecidos no período entre 1980 e 2000, a grande maioria civis, segundo a Comissão da Verdade e Reconciliação (CVR).
"Este senhor se foi sem pedir desculpas aos familiares ou pagar uma indenização. Para mim é um ditador condenado por vários crimes", disse à AFP Gladys Rubina, irmã de uma das 15 vítimas do massacre de Barrios Altos.
O presidente da CVR, órgão que investigou os anos de violência política no Peru (1980-2000), lamentou que ele tenha falecido "sem pedir perdão" às vítimas civis do conflito.
"Ele foi uma pessoa que trabalhou para o Peru, fez coisas boas, mas em outras não correspondeu ao cargo que ocupava e usurpou", disse à AFP Salomón Lerner Febres, ex-diretor da CVR.
(O.Robinson--TAG)