Guerra continua durante os Jogos Olímpicos, diz Casa olímpica da Ucrânia em Paris
O que restou das arquibancadas de um estádio ucraniano destruído pelas forças russas recebe os visitantes na Casa olímpica da Ucrânia em Paris, para lembrar que durante os Jogos Olímpicos a guerra continua.
Ao lado é exibida uma réplica de um peso feito com um tubo e dois pneus, com o qual o atleta do salto em altura Andriy Protsenko treinou enquanto vivia sob a ocupação russa em Kherson, no sul da Ucrânia, região hoje novamente controlada por Kiev.
Na próxima semana, jovens atletas que foram amputados após ataques russos darão entrevistas em Paris. O objetivo é mostrar ao mundo a resiliência dos esportistas ucranianos e recordar que a guerra iniciada por Moscou há mais de dois anos continua causando estragos.
As tropas russas avançam lentamente, mas de forma segura no leste, e os ataques às cidades e infraestruturas ucranianas matam e destroem diariamente.
"Não esqueçam da Ucrânia", pediu o ministro dos Esportes, Matviy Bidnyi, ex-campeão de fisiculturismo, ao inaugurar a casa olímpica ucraniana em Paris no último fim de semana.
- Valores humanos e princípios do Olimpismo -
Os organizadores da Casa da Ucrânia tentam sensibilizar os visitantes e provocar emoções, entre raiva, tristeza, orgulho e alegria.
O público poderá aprender a preparar o "borscht", a famosa sopa ucraniana de beterraba, mas também assistir ao documentário vencedor do Oscar "20 Dias em Mariupol", que narra o sangrento cerco à grande cidade portuária no início da guerra, agora sob controle russo.
Para a cantora Jamala, vencedora do Festival Eurovision 2016, as pessoas precisam ver as "coisas nojentas" que continuam acontecendo na Ucrânia. "Nossas crianças morrem diariamente e nossas mulheres são estupradas (...) precisamos de ajuda", declarou.
A Casa da Ucrânia organizará encontros com as pequenas Oleksandra Paskal, de 8 anos, e Yana Stepanenko, de 13.
A primeira perdeu sua perna aos 6 anos em um ataque russo em Odessa (sul), mas retomou seus treinos de ginástica e as participações em competições agora com o uso de sua prótese.
Já a segunda precisou ter seus dois pés amputados após um ataque contra a estação ferroviária de Kramatorsk em 2022, que deixou 60 mortos. Apesar disso, correu cinco quilômetros com suas próteses na Maratona de Boston no ano passado.
"Amanhã isto pode acontecer no seu país", alertou Bidnyi à AFP, admitindo que é difícil para países em paz assimilarem o que a Ucrânia enfrenta. "É outro planeta", destacou.
Em 8 de julho, a esposa do ministro perdeu o primo de 20 anos em um ataque russo em Kiev que atingiu um hospital infantil e matou 33 pessoas. "Encontrei seu corpo decapitado. Ninguém deveria ver coisas assim", disse ele.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, que não compareceu à cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos em 26 de julho e não deve estar na de encerramento em 11 de agosto, declarou no primeiro dia da competição que estava "orgulhoso" dos atletas ucranianos.
Formada por 141 pessoas, a delegação ucraniana tentará superar o desempenho dos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, onde conquistou 19 medalhas.
"Eles têm a nossa vontade de vencer e o caráter ucraniano", reforçou Zelensky, avaliando que Kiev está do lado daqueles que "respeitam a vida, os valores humanos e os princípios do Olimpismo".
(M.Scott--TAG)