Premier da Espanha se nega a depor e apresenta queixa contra juiz
O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, recorreu nesta terça-feira (30) ao direito de não depor contra sua mulher perante o juiz que a investiga por suspeita de corrupção, e apresentou uma queixa contra o magistrado.
Em meio a uma grande expectativa, o juiz Juan Carlos Peinado, 69, deslocou-se até o Palácio de la Moncloa, residência presidencial, para colher o depoimento do chefe de governo socialista, mas o encontro durou poucos minutos.
Citado como testemunha no caso de tráfico de influência envolvendo Begoña Gómez, também suspeita de corrupção empresarial, Sánchez negou-se a depor, evocando a lei que exime uma pessoa de testemunhar contra seu cônjuge.
Begoña, especialista em arrecadação de fundos para fundações e ONGs, já havia feito uso do direito de permanecer em silêncio quando compareceu ao tribunal no último dia 19.
Pouco depois da visita do juiz, Sánchez, que defende a inocência de sua mulher e considera o assunto uma campanha da direita para desgastar seu governo, apresentou uma queixa por suspeita de prevaricação contra o magistrado.
Na denúncia, redigida em seu nome pela Procuradoria do Estado, Sánchez critica, entre outras coisas, que Peinado tenha lhe pedido para depor pessoalmente, e não por escrito, o que solicitou sem sucesso, por entender que a lei lhe permitia fazê-lo enquanto chefe de governo.
- 'Abuso' -
A denúncia contra o magistrado não representa "um ataque ao Poder Judiciário", afirma o documento, ao qual a AFP teve acesso. "Ao contrário, é uma expressão de confiança no Judiciário, ao entender que é o adequado para resolver um abuso, neste caso judicial e imputável a um dos mais de 5.000 juízes que exercem suas funções na Espanha", enfatizou o chefe do Executivo.
Para justificar a forma como Sánchez foi convocado, Peinado declarou que o fez não na qualidade de presidente do Governo, mas de marido da pessoa investigada, por isso deveria testemunhar pessoalmente.
"Não é possível dissociar uma pessoa e fingir que vai ser interrogada como marido, quando o determinante do objeto da investigação (...) é a condição de presidente do Governo do marido da pessoa sob investigação", respondeu a denúncia.
Esta foi apenas a segunda vez que um chefe do Executivo espanhol em exercício foi convocado para depor perante um magistrado, depois do conservador Mariano Rajoy tê-lo feito em 2017, em um julgamento por financiamento irregular do seu Partido Popular (PP).
Sánchez manteve sua agenda de hoje. Pela manhã, dirigiu um Conselho de Ministros, e à tarde despachou com o rei Felipe VI na ilha de Maiorca. Após esse compromisso, informou que vai comentar o caso amanhã, durante o balanço anual.
Begoña é investigada por suposta corrupção empresarial e tráfico de influência por parte de Peinado, que abriu a investigação após denúncia de um grupo próximo à extrema direita, o "Mãos Limpas".
Formada em Marketing e mestre em Gestão, ela é suspeita de ter aproveitado a posição do marido nas suas relações profissionais, particularmente com Juan Carlos Barrabés, empresário espanhol que obteve ajudas públicas e que também está sendo investigado.
(K.Jones--TAG)