Um morto em protestos contra a reeleição de Maduro
Ao menos uma pessoa morreu na segunda-feira (29) nos protestos espontâneos contra a questionada reeleição do presidente Nicolás Maduro, que foram reprimidos pelas forças de segurança, enquanto a oposição afirma ter provas de uma fraude eleitoral e cresce o apelo internacional para uma transparência maior na contagem dos votos.
A primeira morte foi registrada no estado de Yaracuy (noroeste), segundo a ONG Foro Penal, especializada na defesa de presos políticos. Alfredo Romero, diretor da organização, também informou que 46 pessoas foram detidas pelas autoridades.
"E vai cair, e vai cair, este governo vai cair!", gritavam milhares de manifestantes que foram às ruas da gigantesca favela de Petare, a maior de Caracas. "Entregue o poder já!", exclamavam outros.
Manifestações foram registradas em várias regiões da capital, algumas muito pobres, onde a Guarda Nacional militarizada dispersou várias delas com gás lacrimogêneo e tiros de bala de borracha. Também foram ouvidos disparos em alguns bairros.
No interior do país também houve protestos.
"Pela liberdade do nosso país, pelo futuro dos nossos filhos, queremos liberdade, queremos que Maduro vá embora. Vá embora, Maduro!", disse à AFP Marina Sugey, uma dona de casa de 42 anos, durante o protesto em Petare.
O presidente, reeleito para um terceiro mandato de seis anos, denunciou uma tentativa de golpe de Estado "de caráter fascista e contrarrevolucionário". O ministro da Defesa, Vladimir Padrino, informou que 23 militares ficaram feridos nos protestos.
A oposição, liderada por María Corina Machado, denuncia uma fraude e disse ter "como provar a verdade" de que a eleição foi vencida por Edmundo González Uruttia no domingo. Machado explicou que, após ter acesso a cópias de 73% das atas da apuração, a projeção é de uma vitória da oposição com 6,27 milhões de votos, contra 2,75 milhões para Maduro.
"A diferença foi tão grande, acachapante em todos os estados da Venezuela, em todos os setores, vencemos", afirmou Machado.
- "Revisão completa dos resultados" -
Os Estados Unidos, que foram fundamentais no processo que levou à eleição, e os vizinhos Brasil e Colômbia, os três países que mais receberam migrantes venezuelanos, questionaram a apuração que deu a Maduro um terceiro mandato de seis anos com 51% dos votos, contra 44% de González, segundo o CNE, de viés governista.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) convocou uma reunião extraordinária a pedido dos governos da Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai, que pediram uma "revisão completa dos resultados".
Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela expulsou o pessoal diplomático argentino, chileno, costarriquenho, panamenho, peruano, dominicano e uruguaio, diante do que considerou "ações intervencionistas" de seus países.
Na embaixada argentina estão refugiados há semanas seis colaboradores de María Corina Machado, que denunciou um assédio policial à sede diplomática. A oposição já relatou a prisão de cerca de 150 pessoas ligadas à campanha.
A Venezuela anunciou a suspensão dos voos procedentes e com destino ao Panamá e à República Dominicana a partir de quarta-feira, como forma de rejeição à postura de seus governos.
China, Rússia, Cuba, Nicarágua, Honduras e Bolívia parabenizaram Maduro. O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, disse que reconhecerá o resultado do CNE.
Uma pequena delegação do Centro Carter esteve presente na votação de domingo. Ela pediu ao CNE "que publique imediatamente os resultados das eleições presidenciais por colégio eleitoral". Além disso, um painel de especialistas da ONU emitirá um relatório confidencial.
- "Pena máxima" -
O chavismo convocou para terça-feira "uma grande marcha em direção a Miraflores", o palácio presidencial, "para defender a paz".
Machado e González chamaram para "assembleias cidadãs" em diferentes cidades. Não deram maiores detalhes, mas o embaixador marcou distância dos protestos do dia.
"Não contribuem para esse objetivo", disse em coletiva de imprensa. "Há muita indignação e entendemos isso, mas temos que manter a calma, a serenidade, até alcançarmos a vitória".
O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, disse na rede social X que "punirá com a pena máxima aqueles que pretendam reeditar os impunes e assassinos" protestos desses dois anos.
A maioria das pesquisas favorecia a oposição, que se absteve das eleições presidenciais passadas de 2018 e capitalizou o descontentamento de anos de uma crise que contraiu o Produto Interno Bruto em 80% e levou ao exílio cerca de sete milhões de venezuelanos, segundo a ONU.
(W.Williams--TAG)