EUA rejeita, no G20, ideia de imposto internacional para bilionários
Os ministros das Finanças do G20 reunidos no Rio de Janeiro expressaram divergências nesta quinta-feira (25) sobre a ideia de um imposto sobre grandes fortunas, promovida pelo Brasil e rejeitada pelos Estados Unidos, que defende que cada país adote seu próprio sistema tributário "justo e progressivo".
A iniciativa de taxar os super-ricos é impulsionada no G20 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que este ano preside o grupo das maiores economias globais.
Os titulares das Finanças abordarão o tema em uma reunião à tarde, mas a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, adiantou que seu país é contra um imposto coordenado.
"A política fiscal é muito difícil de coordenar globalmente. Não vemos a necessidade nem acreditamos que seja desejável tentar negociar um acordo global sobre esse tema", afirmou Yellen em uma coletiva de imprensa, defendendo que cada país implemente seu sistema "justo e progressivo".
"Os Estados Unidos apoiam firmemente um sistema tributário progressivo, que garanta que indivíduos muito ricos e de alta renda paguem sua parte justa", explicou.
Na quarta-feira, Lula apontou que "alguns indivíduos controlam mais recursos do que países inteiros", ao anunciar a criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, principal projeto da presidência brasileira do G20.
Fernando Haddad, seu ministro da Fazenda, argumentou na quarta-feira pela taxação dos bilionários como instrumento para financiar o combate à fome.
No entanto, se mostrou cauteloso, ao afirmar que é possível que os ministros emitam uma declaração "que vai dar impulso a essa agenda". "Não vai ser de um dia para o outro que vai se estabelecer, porque isso é uma construção muito delicada", disse à TV Globo.
- Washington e Berlim reticentes -
As desigualdades continuaram aumentando nos últimos anos, segundo um estudo da ONG Oxfam publicado nesta quinta-feira: o 1% mais rico do mundo viu sua riqueza crescer em US$ 42 trilhões (R$ 236,6 trilhões, na cotação atual), mas sua tributação é "historicamente" baixa.
A ideia de um imposto coordenado para os mais ricos surgiu no início do ano e pouco a pouco obteve o apoio de vários países, como França, Espanha e África do Sul.
O economista francês Gabriel Zucman estima que a taxa de imposto paga pelos bilionários é de 0,3% de sua riqueza.
Em um relatório recente elaborado a pedido do Brasil, Zucman propôs criar um imposto de 2% sobre as fortunas de cerca de 3 mil bilionários. Mas nem todos os países do G20 apoiam essa ideia.
Além da rejeição pelos EUA, o Ministério das Finanças alemão, às vésperas do G20, considerou "pouco pertinente" um imposto mínimo sobre o patrimônio.
Espera-se ainda que esta reunião de ministros, que antecede a cúpula de chefes de Estado e de governo em 18 e 19 de novembro - também no Rio -, aborde a situação econômica mundial e, na sexta-feira, o financiamento da transição climática e a dívida.
As divisões internacionais devido às guerras na Ucrânia e em Gaza tornaram as declarações conjuntas do G20 um assunto também sensível.
Durante a última reunião de ministros das Finanças em São Paulo, em fevereiro, esses temas levaram a um "impasse".
Desta vez, a solução idealizada pelo Brasil é a redação de três textos.
Por um lado, um dedicado exclusivamente à questão tributária. Por outro, um comunicado final mais amplo e, por último, uma "declaração" publicada separadamente pela presidência brasileira, a única que faria referência às crises geopolíticas.
Esse modelo já foi colocado em prática esta semana. A presidência brasileira do G20 emitiu na quarta-feira uma "declaração" afirmando que alguns membros do G20 "expressaram suas perspectivas" sobre a situação na Ucrânia e em Gaza durante os debates da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
Alguns países veem o G20 como um fórum relevante para debater esses temas, enquanto outros pensam o contrário.
Fundado em 1999, o G20 reúne a maioria das principais economias mundiais, assim como a União Europeia e a União Africana.
No início, sua vocação era principalmente econômica, mas cada vez mais se envolveu nos temas quentes da atualidade internacional.
(N.Miller--TAG)