Israel prepara nova ação militar em Gaza e ofensiva diplomática em Washington
Israel instou nesta segunda-feira (22) os palestinos a se retirarem de uma área do sul de Gaza em antecipação a novas operações militares contra o Hamas, logo depois que o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, partiu para os Estados Unidos para discursar no Congresso na quarta-feira.
O presidente israelense considerou, ao deixar Israel, que se trata de uma "viagem muito importante" em um momento de "grande incerteza política", aludindo à decisão do presidente americano, Joe Biden, de não concorrer à reeleição nas eleições de novembro.
A visita ocorre em meio à guerra entre o Exército israelense e o movimento islamista palestino Hamas em Gaza, que têm tensionado as relações entre Israel e Estados Unidos, seu principal aliado e apoio incondicional.
Nos últimos meses, Washington manifestou suas discrepâncias com Israel sobre a resposta do país ao ataque do Hamas no seu território, em 7 de outubro, insistindo que os civis devem ser protegidos e a ajuda humanitária permitida na Faixa de Gaza.
Netanyahu se reunirá com Biden na terça-feira antes de pronunciar um discurso perante o Congresso no dia seguinte, segundo seu gabinete.
"A atmosfera nunca esteve tão tensa", disse Steven Cook, especialista em Oriente Médio do gabinete americano Council on Foreign Relations.
- "Não podemos mais" -
Na Faixa de Gaza, a ofensiva israelense continua de forma implacável contra o movimento islamista Hamas e outros grupos palestinos, especialmente nas regiões onde o Exército israelense afirmou ter recuperado o controle.
As forças armadas israelenses instaram a população a evacuar o leste de Khan Yunis, a maior cidade do sul do território palestino, devastada por meses de combates.
Lá, o Exército anunciou que preparava uma "operação intensiva contra organizações terroristas" após o lançamento de foguetes contra Israel.
Segundo uma carta divulgada pelo Exército israelense, os habitantes do leste de Khan Yunis devem se deslocar para oeste, ou seja, para a zona costeira, em uma área da Faixa que as forças israelenses chamam de "zona humanitária" de Al Mawasi.
"Vamos morar na rua. E mesmo assim, até as calçadas estão cheias de gente e barracas. Estamos exaustos. Não aguentamos mais esses deslocamentos", disse Yusef Abu Taimah, homem que deixou a cidade com sua família. Esta é a quarta vez que ele precisa se retirar de um local.
Ahmed al Bayuk, de 53 anos, já sofreu três deslocamentos. "Para onde devemos ir? Todos os lugares correm o risco de ser bombardeados", questionou.
De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, governada pelo Hamas, pelo menos 14 pessoas morreram em bombardeios em Khan Yunis na manhã desta segunda-feira, e uma fonte médica do hospital Nasser da cidade relatou 26 mortes.
A guerra em Gaza eclodiu em 7 de outubro, quando comandos islamistas do Hamas mataram 1.195 pessoas, a maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel, segundo uma contagem baseada em dados oficiais israelenses.
O Exército israelense estima que 116 pessoas permanecem cativas em Gaza, 42 das quais teriam morrido.
Em resposta, Israel lançou uma ofensiva que já matou 39.006 pessoas em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território.
Benjamin Netanyahu prometeu destruir o Hamas, que governa Gaza desde 2007 e é considerado uma organização "terrorista" por Estados Unidos, Israel e UE.
- Netanyahu, sob pressão -
A visita de Netanyahu aos Estados Unidos ocorre depois que os rebeldes huthis iemenitas e o Hezbollah libanês, ambos aliados do Irã, abriram frentes contra Israel, em apoio aos palestinos no território sitiado.
No sábado, Israel assumiu a responsabilidade pelo ataque ao Iêmen, depois de ter bombardeado o porto de Hodeida, no oeste do país. O bombardeio, que deixou seis mortos e dezenas de feridos, foi realizado em resposta a um ataque dos houthis na sexta-feira em Tel Aviv, que deixou um morto.
O bombardeio israelense causou um grande incêndio no porto iemenita e os houthis e Israel se ameaçaram mutuamente com novas agressões.
Estados Unidos, Catar e Egito tentam promover negociações para um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, que serão acompanhadas de uma libertação dos reféns. Netanyahu anunciou na noite de domingo que autorizou o envio de uma delegação na quinta-feira para negociar um acordo.
Os familiares pressionam Netanyahu há meses para chegar a um acordo para que os reféns possam voltar para casa.
Nesta segunda-feira, o Fórum Israelense de Famílias de Reféns anunciou que dois homens detidos em Gaza, Yagev Buchstab, de 35 anos, e Alex Dancyg, de 76, morreram durante o cativeiro.
(P.Davis--TAG)