Desistência de Biden, uma 'má notícia' para Trump
A desistência de Joe Biden de tentar se reeleger presidente dos Estados Unidos também abala a campanha de seu adversário, o republicano Donald Trump, até agora centrada em sua oposição ao democrata e para quem esta é uma "má notícia", segundo um especialista.
Há meses, Trump e seus aliados expressam preocupação e críticas pelo estado de saúde do presidente em fim de mandato, de 81 anos. Divulgaram videoclipes com cada um de seus passos em falso: seus episódios de gagueira, erros ao falar e tropeços.
"O corrupto Joe Biden não estava apto para se candidatar como presidente, e certamente não estava apto para servir -- E nunca foi! ... Sofremos muito com sua Presidência, mas vamos remediar o dano que causou muito rapidamente", publicou Trump em sua rede, Truth Social, pouco depois do anúncio de Biden, neste domingo (21).
Na convenção republicana de Milwaukee (norte), J.D. Vance, o nome escolhido por Trump para ser seu colega de chapa, também disparou acusações contra o democrata.
Com a desistência do rival, a campanha do candidato republicano que sobreviveu a uma tentativa de assassinato se vê obrigada a dar uma guinada estratégica.
"A desistência de Biden é uma má notícia para Trump", afirmou à AFP Henry Olsen, do centro de reflexão conservador Ethics and Public Policy Center.
O presidente Biden tem, "a esta altura de sua Presidência, o nível de aprovação mais baixo já registrado nas pesquisas para um primeiro mandato e está irremediavelmente obstaculizado por sua idade", assinalou o analista político antes do anúncio da desistência, neste domingo.
Teria sido "muito melhor para Trump disputar contra ele do que com qualquer outro possível adversário", acrescentou.
Até pouco tempo atrás, a equipe de campanha do republicano minimizava as possibilidades de uma desistência, mas trabalhou recentemente nos bastidores em ataques contra a vice-presidente Kamala Harris, que antes de receber, neste domingo, o apoio de Biden para ser a candidata democrata, já soava como possível substituta na disputa eleitoral.
Esta ex-senadora pela Califórnia, de 59 anos, que se tornou a primeira mulher e a primeira pessoa negra e de origem asiática a ser vice-presidente dos Estados Unidos, pode ter que competir com outros nomes do Partido Democrata para ser escolhida candidata.
- Choque cultural -
Há meses, os eleitores manifestam aos pesquisadores seu desejo de serem representados por um candidato mais jovem.
Portanto, eleger um governador democrata jovem que represente um estado-chave poderia representar uma ameaça para o tempestuoso republicano, que teria 82 anos no final de um eventual segundo mandato, caso vença as eleições.
Mas uma campanha liderada por Kamala Harris poderia ser ainda mais perigosa para Trump, porque poderia atrair o eleitorado feminino, que historicamente vota mais que os homens, e representa o calcanhar de Aquiles do republicano.
Também daria aos democratas a oportunidade de redefinir, na convenção nacional do partido em agosto, esta campanha presidencial como um choque cultural.
De fato, a ex-procuradora enfrentaria o primeiro presidente condenado da história dos Estados Unidos. Além disso, Trump está envolvido em outros casos judiciais.
Harris encarnou, ainda, a defesa do direito ao aborto no governo democrata de Biden, um tema explosivo que já paralisou o Partido Republicano nas urnas.
- 'Destruição e caos' -
Kamala Harris obteria melhores resultados que Joe Biden contra Donald Trump em Michigan e na Pensilvânia, dois estados que poderiam definir as eleições, segundo uma pesquisa recente.
Mas a vice-presidente tem a desvantagem de já estar no cargo, o que significa que Trump poderá atacá-la pelo mesmo histórico de Biden, particularmente pela imigração ilegal.
O Partido Democrata tem outras opções, como os governadores Josh Shapiro, Gretchen Whitmer e Gavin Newsom.
Este último, governador da Califórnia, já protagonizou diversos enfrentamentos com figuras republicanas, portanto não se deixaria intimidar pelos ataques de Trump.
Gretchen Whitmer é a ponta de lança do partido democrata em Michigan, um estado-chave.
O governador de outro estado-pêndulo, a Pensilvânia, Josh Shapiro, também é um sério candidato.
Quem quer que obtenha a nomeação democrata, não se salvará dos embates do bilionário tempestuoso.
"A destruição e o caos provocado pela administração Biden não é obra apenas de Joe, o Corrupto, é obra de todo o Partido Democrata", disse recentemente a equipe de campanha de Donald Trump. "Ninguém agiu pior que Kamala Harris, que mentiu reiteradamente", acusou.
(E.Taylor--TAG)