Maduro 'toma' Venezuela no começo de uma campanha presidencial incerta
A campanha para as eleições do próximo dia 28 na Venezuela começou oficialmente nesta quinta-feira (4), com o presidente Nicolás Maduro, que busca o terceiro mandato, liderando um comício no estado petroleiro de Zulia, antes de seguir para Caracas, que o chavismo prometeu dominar de ponta a ponta.
O processo começa em meio a incertezas e denúncias de "perseguição", prisões e inabilitações de opositores, acusados pelo governo de conspiração.
"Começo a campanha eleitoral vitoriosa rumo a [o palácio presidencial] Miraflores", anunciou Maduro. Sua primeira escala, em Zulia, faz parte da "tomada" que o chavismo anunciou para o início formal da campanha em 70 cidades, um número simbólico, porque é a idade que o ex-presidente falecido Hugo Chávez completaria no dia da eleição.
Liderada por María Corina Machado, a oposição começará, também na capital, uma caravana por todo o país - acompanhada pelo candidato Edmundo González Urrutia-, que vai percorrer sete estados, entre eles o de Barinas, reduto do chavismo até 2021, quando a oposição o arrebatou nas eleições.
“Chegou a hora de nos abraçarmos novamente”, disse González em um vídeo. “Vamos converter o desejo de mudança em votos”.
- 'Campanha atípica' -
Embora tenha se iniciado formalmente hoje, a campanha começou meses atrás. María Corina percorreu o país inteiro de carro, porque o chavismo a impede de viajar de avião. Em cada cidade, é recebida como uma estrela por multidões, que se reúnem para ouvir suas promessas de mudança.
Já Maduro intensificou sua agenda eleitoral nas últimas semanas, com aparições diárias em diversas cidades. Ele promete uma recuperação econômica, depois de uma crise sem precedentes, que reduziu o PIB em 80% e levou a um êxodo em massa, que a ONU calcula em mais de 7 milhões de pessoas, ou cerca de 25% da população do país.
"É uma campanha atípica, mais sobre percepções e perspectivas do país do que sobre programas concretos", explicou à AFP Guillermo Tell Aveledo, professor de estudos políticos da Universidade Metropolitana.
A maioria das pesquisas aponta uma vitória da oposição, desestimada pelo chavismo, que monta palcos gigantes, com artistas internacionais, em meio a denúncias de excessos e pressão para que beneficiários de programas sociais votem em Maduro.
“Uma coisa é vencer o processo eleitoral, outra é o reconhecimento”, alertou Aveledo. “Aí surgem outros tipos de temores, de possibilidades”.
- Pressão internacional -
Um ensaio da eleição foi realizado no último domingo e foi acompanhado por observadores do Centro Carter e do painel de especialistas das Nações Unidas.
A União Europeia foi excluída da observação devido às sanções que persistem contra funcionários do governo venezuelano.
Maduro busca legitimidade internacional com estas eleições, depois da rejeição generalizada à sua reeleição em 2018, rotulada pelos Estados Unidos e dezenas de outros países como fraudulenta.
Washington, que apresentou condições em troca da suspensão de sanções, retomou um processo de diálogo direto com Maduro. Na primeira reunião, que aconteceu ontem, as partes concordaram em "trabalhar em conjunto para ganhar confiança e melhorar as relações", segundo a delegação venezuelana.
Os vizinhos Brasil e Colômbia também exigem "eleições livres", temendo outra onda de migração para seus territórios.
Especialistas concordam sobre a dificuldade de fraude no sistema de votação eletrônica. "No entanto, está sobre a mesa a possibilidade de algum tipo de não reconhecimento, golpe ou ofuscação da vontade popular", alerta Aveledo.
"Uma ação desse tipo arruinaria qualquer tentativa de legitimação que esta eleição poderia ter", acrescentou.
(T.Martin--TAG)