Casa Branca tenta conter a ansiedade sobre a saúde de Biden
A Casa Branca tentou nesta terça-feira (2) levantar os ânimos dos pesos pesados e congressistas democratas, que questionam a capacidade do presidente Joe Biden, de 81 anos, para um segundo mandato.
"Espero que ele tome a difícil e dolorosa decisão de se retirar. Peço respeitosamente isso a ele", afirmou Lloyd Doggett, o primeiro congressista democrata a pedir publicamente que Biden desista.
"Acho que é uma pergunta legítima dizer: 'Isso foi um episódio ou é um estado?'" afirmou a muito influente Nany Pelosi, de 84 anos, ex-presidente democrata da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, à rede MSNBC.
Pelosi se refere ao desastroso debate de quinta-feira passada entre Biden e o republicano Donald Trump, de 78 anos, no qual o democrata se atrapalhou várias vezes e perdeu o raciocínio, intensificando os temores sobre sua acuidade mental.
"Joe Biden 'sabe como se recuperar'", disse a porta-voz Karine Jean-Pierre aos jornalistas, descartando a possibilidade de o octogenário se submeter a um teste cognitivo porque "não é justificado, não é necessário". Em fevereiro, seu médico o declarou apto para governar.
Durante o debate, o presidente americano foi incapaz de se expressar fluentemente e com vigor sem um teleprompter (dispositivo que permite ler um texto sem desviar o olhar da câmera). Na sexta-feira, ele concederá uma entrevista à ABC News, que vai transmiti-la integralmente no domingo.
A Casa Branca também promete uma coletiva de imprensa na próxima semana durante a cúpula da Otan em Washington, além de conversas com funcionários, governadores e congressistas democratas de alto escalão.
Karine Jean-Pierre repetiu que Joe Biden teve uma "noite ruim" na quinta-feira e reiterou que o presidente estava "resfriado".
- "Horrível" -
Mas o fato é que os democratas estão perdendo a paciência.
"Temos que ser honestos com nós mesmos e dizer que não foi apenas uma noite horrível", declarou o congressista democrata Mike Quigley à CNN.
Uma pesquisa publicada nesta terça-feira pela CNN aumentou ainda mais o pânico entre os democratas: 75% dos eleitores entrevistados acreditam que o partido teria mais chances em novembro com outro candidato.
Trump recebe 49% das intenções de voto a nível nacional, contra 43% de seu rival, uma diferença que não mudou desde a última pesquisa desse tipo, realizada em abril.
A vice-presidente Kamala Harris, embora não ganhasse, estaria melhor posicionada, com 45%, contra os 47% do ex-presidente republicano.
Outros possíveis candidatos democratas, alguns deles pouco conhecidos pelo público, enfrentariam Donald Trump com pontuações semelhantes às do atual presidente, apesar da falta de notoriedade, como o governador da Califórnia, Gavin Newsom, o secretário de Transportes, Pete Buttigieg, e a governadora do Michigan, Gretchen Whitmer.
O New York Times informou nesta terça-feira que alguns colaboradores do presidente notaram "ausências mais frequentes" e "mais pronunciadas" nos últimos meses, mas também momentos de lucidez, por exemplo, diante de crises internacionais.
As perguntas sobre a acuidade mental do presidente mais velho da história dos Estados Unidos, que tem mostrado um declínio físico evidente, são "legítimas", insistiu Karine Jean-Pierre nesta terça-feira, mas evitou respondê-las diretamente.
A porta-voz afirmou que o governo "absolutamente não esconde" informações sobre as aptidões do presidente.
- Hotel -
Uma mudança clara de tom em uma Casa Branca que até agora tinha uma tendência a evitar perguntas sobre a idade do presidente.
Há meses que o presidente americano, que já caiu várias vezes em público, não usa mais a grande passarela de seu avião. Ele prefere uma escada mais curta e estável.
Nas últimas semanas, Biden também está cercado de assessores ao se deslocar da Casa Branca para seu helicóptero no gramado, o que evita que as câmeras gravem seu caminhar muito rígido.
O presidente americano, propenso a gafes, não concede uma coletiva de imprensa longa desde janeiro de 2022 e reduziu o número de declarações improvisadas para os jornalistas.
O democrata passa quase todos os fins de semana em uma de suas casas em Delaware, sem programação oficial.
Quando Joe Biden visitou recentemente a França, por ocasião das comemorações do desembarque dos aliados em 1944, ele foi direto do aeroporto para seu hotel, onde permaneceu um dia inteiro, sem qualquer aparição pública.
(M.Scott--TAG)