Ucrânia acusa Rússia de atacar locais utilizados para exportar grãos
O presidente ucraniano Volodimir Zelensky acusou nesta quarta-feira (19) a Rússia de ter atacado "deliberadamente" as infraestruturas utilizadas para a exportação de grãos, dias depois que um importante acordo sobre a questão expirou.
A Rússia, no entanto, tentava controlar um incêndio em um acampamento militar da península ucraniana da Crimeia, anexada por Moscou, que provocou a evacuação de 2.000 moradores.
Após uma segunda noite consecutiva de bombardeios em Odessa, uma cidade portuária estratégica do sul, o presidente ucraniano acusou, no Telegram, as tropas russas de apontar "de maneira deliberada contra as infraestruturas do acordo sobre grãos", graças ao qual Kiev exportava sua produção agrícola, crucial para a alimentação mundial.
Segundo o ministério responsável pela reconstrução da Ucrânia os ataques atingiram "os terminais de grãos e as infraestruturas portuárias de Odessa e Chornomorsk", causando danos nos "armazéns e cais do porto de Odessa".
O ministério ucraniano de Agricultura informou que 60.000 toneladas de grãos foram destruídos no porto de Chornomorsk.
O Exército russo afirmou que os ataques foram lançados contra bases militares ucranianas perto de Odessa, incluindo "postos de combustíveis e depósitos de munições".
Segundo Kiev, as forças russas lançaram mísseis de cruzeiro Kalibr, drones explosivos Shahed e mísseis antinavios Onyx e Kh-22.
Pelo menos 12 pessoas ficaram feridas nos ataques noturnos, segundo o governador de Odessa, Oleg Kiper, embora o Ministério Público tenha comunicado um balanço de dez feridos.
Na terça-feira, o Kremlin advertiu para novos "riscos" no Mar Negro em meio à suspensão do acordo para exportar grãos, que permitia transportar com segurança os produtos agrícolas ucranianos, apesar do conflito e bloqueio dos portos ucranianos pela Marinha russa.
A Rússia se recusou a prorrogar o acordo de exportação de cereais ucranianos assinado em julho de 2022, com o apoio da ONU e Turquia, e prolongado várias vezes.
Moscou denunciou que sua exigência para a retirada dos obstáculos à exportação de produtos agrícolas e fertilizantes russos não estava sendo atendida. O Kremlin também acusou a Ucrânia de utilizar o corredor marítimo, aberto no âmbito do acordo, "com fins militares".
- Incêndio em acampamento militar -
Os três portos utilizados por Kiev para exportar seus produtos agrícolas como parte do acordo ficam em Odessa e região.
Em um ano, o pacto permitiu a exportação de 33 milhões de toneladas de grãos, principalmente milho e trigo, o que contribuiu para estabilizar os preços mundiais dos alimentos.
Na mesma região do Mar Negro, um incêndio atingiu um acampamento militar nesta quarta, no distrito de Kirovski, no leste da península da Crimeia.
Segundo o governador russo da região, Serguei Aksionov, "moradores de quatro localidades adjacentes", deixaram suas casas, ou seja, mais de 2.000 pessoas. De acordo com o presidente do Parlamento da Crimeia, Vladimir Konstantinov, elas não poderão retornar para suas residências por dois ou três dias.
Dois portais russos, Mash e Baza, próximos aos serviços de segurança de Moscou, informaram que explosões foram ouvidas na região por várias horas. Segundo o Mash, um depósito de munições incendiado.
Kiev não se pronunciou e as autoridades russas não confirmaram a explosão de munições nem apontaram as possíveis causas do incêndio.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse à imprensa que o presidente russo Vladimir Putin foi "informado" do incêndio.
Desde o início da ofensiva contra a Ucrânia em fevereiro de 2022, a Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, é alvo frequente de ataques de drones aéreos e navais.
Na front, os combates se concentram no leste do país. Na terça, 10 civis ficaram feridos em bombardeios russos, informou nesta quarta, no Telegram, o governador da região de Donetsk (leste), Pavlo Kyrylenko.
Segundo o Exército russo, suas forças avançaram mais de um quilômetro durante várias "operações ofensivas" ao norte da cidade de Kupiansk, no nordeste da Ucrânia, onde reivindicou a tomada de uma estação de trem.
Por outro lado, a Presidência sul-africana anunciou nesta quarta-feira que Vladimir Putin não participará da cúpula dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) prevista para final de agosto em Johannesburgo, encerrando vários meses de especulações.
(A.Lehmann--BBZ)