UE e Celac encerram cúpula com conquistas ofuscadas por divergências sobre Ucrânia e Rússia
A cúpula de Bruxelas entre a União Europeia (UE) e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) chegou ao fim nesta terça-feira (18) com uma declaração que expressa "preocupação" com a "guerra contra a Ucrânia", mas evita fazer referência à Rússia, após árduas negociações que não conseguiram consenso com a Nicarágua.
Essa disputa dominou grande parte dos dois dias de discussões que buscavam revitalizar os laços entre a UE, composta por 27 países, e os 33 membros da Celac; e colocou em segundo plano um importante anúncio de investimento europeu, assim como um encontro articulado pela França entre o governo e a oposição da Venezuela, além dos debates sobre os desafios das mudanças climáticas.
Apesar das divergências sobre a Ucrânia evidentes nos discursos do primeiro dia, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, foi apontado por seu par francês, Emmanuel Macron, como "um dos que constroem pontes".
Lula foi criticado no passado pelas potências ocidentais por sua postura a favor de "uma paz negociada" e sua oposição às sanções, posicionamento reiterado durante a cúpula.
Na declaração final, os líderes expressaram sua "profunda preocupação pela atual guerra contra a Ucrânia, que continua causando grande sofrimento", sem qualquer menção à Rússia, em meio ao conflito entre os dois países desde que as tropas de Moscou invadiram a ex-república soviética em fevereiro de 2022.
O bloco europeu, que apoia financeira e militarmente a Ucrânia, insistiu em incluir no texto final uma menção a esse conflito que perturbou as relações internacionais e impactou a economia mundial.
O texto recebeu o apoio de 59 dos 60 países participantes da cúpula. À tarde, Macron afirmou que a "Nicarágua se recusa a assinar o texto".
A declaração indica também que foi "assinada por todos os países, com uma exceção, devido ao desacordo com um parágrafo".
A Nicarágua é um dos sete países que, em fevereiro, votaram contra uma resolução da ONU aprovada com 141 votos favoráveis, exigindo a "retirada imediata" das tropas russas da Ucrânia.
O impasse nas negociações evidenciou o desafio de chegar a acordos entre a UE, um bloco altamente institucionalizado, e um fórum heterogêneo como a Celac.
"A imensa maioria dos países da Celac condena nas Nações Unidas a invasão russa", ressaltou o presidente da Argentina, Alberto Fernández, na coletiva de imprensa final.
O primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves, que ocupa a presidência pro tempore da Celac, minimizou a omissão de uma menção à Rússia.
"Há uma reafirmação de posições e marcamos todos os pontos. Isso não significa que devemos sair dançando lambada nu toda vez que um assunto é levantado. A linguagem está lá", declarou, criticando também as sanções impostas pelas potências ocidentais à Rússia.
- Apoio à negociação sobre Venezuela -
Na declaração, os líderes também expressaram seu apoio a "um diálogo construtivo entre as partes das negociações conduzidas por venezuelanos na Cidade do México".
À margem da cúpula, a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, e o líder opositor Gerardo Blyde se reuniram na segunda-feira com os presidentes da França, Argentina, Brasil e Colômbia, para discutir as eleições presidenciais do próximo ano.
O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, informou nesta terça que a discussão centrou-se em como "promover eleições de forma inclusiva, eleições livres que possam ser reconhecidas pela comunidade internacional".
Na semana passada, o principal negociador do governo e presidente do Parlamento venezuelano, Jorge Rodríguez, descartou o envio de uma delegação eleitoral da UE, depois que o bloco europeu expressou "preocupação" com a inabilitação da pré-candidata opositora María Corina Machado.
- Enorme plano de investimentos -
A UE tentou estabelecer uma aproximação com o anúncio na segunda-feira de um plano de investimento de 45 bilhões de euros (R$ 242,44 bilhões) por meio do programa Global Gateway.
Com o programa, o bloco pretende exercer um contrapeso à presença cada vez mais intensa da China na América Latina.
A expectativa inicial era de que a cúpula fosse um momento para a assinatura do acordo com o Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai), travado após uma série de negociações iniciadas há mais de duas décadas.
O desmatamento e as questões ambientais são obstáculos para um acordo, mas a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, destacou que espera que as negociações cheguem a um bom termo no segundo semestre deste ano.
(A.Lehmann--BBZ)