UE e Celac iniciam cúpula com divergências sobre a Ucrânia
A União Europeia (UE) e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) iniciaram nesta segunda-feira (17) em Bruxelas uma cúpula de dois dias com o objetivo de superar divergências. Os debates iniciais, porém, evidenciaram um difícil caminho pela frente, em especial com relação à guerra na Ucrânia.
Ao tomar a palavra na sessão inaugural, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou diante do fórum de líderes que o conflito na Ucrânia "é mais uma confirmação de que o Conselho de Segurança das Nações Unidas não atende aos atuais desafios à Paz e à Segurança".
"Repudiamos veementemente o uso da força como meio de resolver disputas", disse, lembrando que o Brasil "apoia as iniciativas promovidas por diferentes países e regiões em favor da cessação imediata de hostilidades e de uma paz negociada".
"Recorrer a sanções e bloqueios sem o amparo do direito internacional serve apenas para penalizar as populações mais vulneráveis", ressaltou Lula, referindo-se a medidas adotadas por várias potências, incluindo a UE.
A guerra na Ucrânia foi mencionada direta ou indiretamente em vários dos discursos de abertura, demonstrando que se trata de um dos principais assuntos na agenda e objeto de discordâncias.
Os líderes têm também sobre a mesa temas comerciais, como a prolongada negociação com o Mercosul, uma reforma na composição do sistema financeiro internacional, as mudanças climáticas e a transição energética. Mas os negociadores europeus pressionam pela inclusão de uma menção à guerra na Ucrânia na declaração final.
O chefe de governo espanhol e presidente pro tempore do Conselho da UE, Pedro Sánchez, afirmou que os dois blocos precisam renovar sua "comum confiança nos valores do multilateralismo, particularmente na resolução pacífica dos conflitos nos princípios das Nações Unidas, na proteção dos direitos humanos e no respeito à integridade territorial dos estados".
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, apontou que "não se deve permitir que a Rússia vença". "Será uma receita para o desastre para o multilateralismo e nosso sistema baseado em regras", declarou.
Por sua vez, o presidente pro tempore da Celac, Ralph Gonçalves, primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, defendeu que a cúpula "não deve se tornar outro campo de batalha inútil para os discursos sobre este tema (a guerra), que foi e segue sendo abordado em outros fóruns mais relevantes".
- Plano de investimentos -
A última cúpula dos dois blocos ocorreu em 2015, mas a diversidade de posturas dentro dos 33 países da Celac complica o consenso com a UE em vários temas. Nesse contexto, o anúncio de um importante plano de investimentos europeu pavimentou o caminho para o diálogo.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou nesta segunda um investimento de 50,56 bilhões de dólares (242,44 bilhões de reais) em vários anos para as economias das América Latina mediante o programa Global Gateway, em resposta aos maciços investimentos da China.
Von der Leyen se reuniu durante a manhã com o presidente Lula, que garantiu que o Brasil "vai cumprir com sua parte na questão climática”. “Temos um compromisso de desmatamento zero até 2030 na Amazônia", disse.
A questão dos compromissos contra o desmatamento e os temas ambientais viraram obstáculos nas demoradas negociações sobre um acordo comercial entre UE e Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai).
- Reunião sobre a Venezuela -
Os presidentes da Argentina, Alberto Fernández, do Brasil, Colômbia, Gustavo Petro, e da França, Emmanuel Macron, se reunirão nesta segunda às 18h locais (13h em Brasília) com os negociadores do processo político da Venezuela.
Esta reunião será celebrada após, na semana passada, o presidente do Parlamento venezuelano, Jorge Rodríguez, descartar que a União Europeia (UE) enviasse uma missão eleitoral para as próximas presidenciais de 2024.
Na cúpula, a Venezuela estará representada pela vice-presidente, Delcy Rodríguez, apesar de estar sancionada pela UE, o que implica a proibição de entrada no território do bloco.
Uma fonte diplomática que pediu anonimato assegurou à AFP que "essas permissões estão previstas na própria regulamentação das sanções".
O encontro de cúpula foi estimulado em grande parte pela Espanha, que assumiu em 1º de julho a presidência semestral rotativa do Conselho da UE. O Executivo espanhol trabalhou durante pelo menos um ano para concretizar a reunião, que espera transformar em um dos legados de seu mandato à frente do bloco europeu.
A UE espera dotar essa relação com uma estrutura permanente, mas a Celac não possuir o nível de institucionalização da UE, e por isso, esta ideia ainda exige muitas horas de negociações.
(K.Müller--BBZ)