UE tenta se reaproximar da Celac com plano de investimentos
A União Europeia (UE) anunciou um plano de investimentos para retomar os laços com a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) no marco da reunião cúpula de dois dias que começa nesta segunda-feira (17) em Bruxelas, com divergências em temas como a guerra na Ucrânia.
A última reunião de cúpula entre os blocos aconteceu em 2015 e agora as duas partes correm contra o relógio para obter resultados, mas a diversidade de posturas entre os 33 países da Celac dificulta o consenso com a UE.
Os governantes pretendem discutir temas como as relações comerciais, incluindo as negociações com o Mercosul, uma reforma na composição do sistema financeiro internacional, as mudanças climáticas e as transições energética e digital.
Além disso, os negociadores europeus pretendem fazer uma menção à guerra na Ucrânia.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou nesta segunda um investimento de 50,56 bilhões de dólares (242,44 bilhões de reais) em vários anos para as economias das América Latina mediante o programa Global Gateway, em resposta aos maciços investimentos da China.
Von der Leyen se reuniu durante a manhã com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O Brasil, garantiu Lula, "vai cumprir com sua parte na questão climática. Temos um compromisso de desmatamento zero até 2030 na Amazônia".
Von der Leyen celebrou "o retorno do Brasil ao cenário internacional".
"Enfrentamos o desafio geracional da mudança climática. Por isto, precisamos que nossos amigos próximos estejam do nosso lado em tempos de incerteza", afirmou.
A questão dos compromissos contra o desmatamento e os temas ambientais viraram obstáculos nas demoradas negociações sobre um acordo comercial entre UE e Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai).
Diplomatas de ambos os blocos expressaram que a reunião desta segunda se tornará um fórum de discussão. Um alto diplomata espanhol disse que será "uma cúpula política, não uma cúpula de negociações".
- Divergências sobre a Ucrânia -
Em um fórum empresarial, Lula afirmou que "guerra no coração da Europa lança sobre o mundo o manto da incerteza".
Esta situação "canaliza para fins bélicos recursos até então essenciais para a economia e programas sociais. A corrida armamentista dificulta ainda mais o enfrentamento da mudança do clima", afirmou.
O texto das conclusões da cúpula tem sido objeto de discórdias desde o início das conversas. A principal é a sugestão dos europeus de mencionar a guerra da Ucrânia no documento, uma delicada questão na qual os dois blocos não têm posições totalmente alinhadas.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, afirmou nesta segunda que trata-se de um encontro entre a UE e América Latina, mas o que o bloco dos 27 explica de forma sistemática em suas negociações com seus aliados do mundo porque apoia a Ucrânia.
"E porque encorajamos os países do mundo a apoiar a soberania territorial da Ucrânia", disse.
- Reunião sobre a Venezuela -
Os presidentes da Argentina, Alberto Fernández, do Brasil, Colômbia, Gustavo Petro, e da França, Emmanuel Macron, se reunirão nesta segunda às 18h locais (13h em Brasília) com os negociadores do processo político da Venezuela.
Esta reunião será celebrada após, na semana passada, o presidente do Parlamento venezuelano, Jorge Rodríguez, descartar que a União Europeia (UE) enviasse uma missão eleitoral para as próximas presidenciais de 2024.
Na cúpula, a Venezuela estará representada pela vice-presidente, Delcy Rodríguez, apesar de estar sancionada pela UE, o que implica a proibição de entrada no território do bloco.
Uma fonte diplomática que pediu anonimato assegurou à AFP que a autorização de entrada de Rodríguez no espaço europeu "é válido para a duração da cúpula".
Segundo essa fonte, "essas permissões estão previstas na própria regulamentação das sanções".
O encontro de cúpula foi estimulado em grande parte pela Espanha, com o apoio de Portugal. Madri assumiu em 1º de julho a presidência semestral rotativa do Conselho da UE. O Executivo espanhol trabalhou durante pelo menos um ano para concretizar a reunião, que espera transformar em um dos legados de seu mandato à frente do bloco europeu.
A UE espera dotar essa relação com uma estrutura permanente, mas a Celac não possuir o nível de institucionalização da UE, e por isso, esta ideia ainda exige muitas horas de negociações.
(T.Renner--BBZ)