Rússia afirma ter tomado Bakhmut, epicentro dos combates na Ucrânia
A Rússia anunciou, neste sábado (20), ter capturado a cidade de Bakhmut, epicentro dos combates no leste da Ucrânia, enquanto o presidente russo, Vladimir Putin, parabenizou suas tropas e o grupo paramilitar Wagner pelo feito.
O anúncio, realizado pelo exército russo, veio a público depois de Kiev anunciar que os combates prosseguiam na cidade, embora tenha admitido que a situação era "crítica". Enquanto isso, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, se reunia com líderes do G7 no Japão.
Bakhmut, cidade que abriga uma mina de sal e onde no passado viviam 70.000 pessoas, tem sido o cenário da mais longa e sangrenta batalha deste o início da invasão russa à Ucrânia, em fevereiro de 2022.
A queda de Bakhmut, onde se acredita que tanto Moscou quanto Kiev tenham tido enormes baixas, daria aos russos uma vitória-chave depois de uma série de derrotas humilhantes.
Também ocorreria antes de uma grande contraofensiva que Kiev vem preparando há meses. O próprio Zelensky alertou que a queda da cidade abriria a via para as tropas russas ocuparem mais áreas da região do Donbass.
"Como resultado de ações de ofensiva de unidades de assalto do (grupo) Wagner, com o apoio da artilharia e da aviação da unidade 'sul', a libertação da cidade de Artemovsk foi concluída", informou o ministério russo da defesa, usando o nome soviético de Bakhmut.
"Vladimir Putin saudou o ataque das unidades de assalto do grupo Wagner, assim como todos os militares de unidades das forças armadas russas, que lhes deram o apoio necessário e cobertura na conclusão da operação para libertar" a cidade, reportou a agência de notícias TASS, citando um comunicado do Kremlin.
O líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, havia reivindicado mais cedo a queda da cidade, atribuindo-a a seus homens, em um vídeo publicado na rede social Telegram, no qual combatentes exibiam bandeiras russas tendo ao fundo um cenário de ruínas.
"Hoje, 20 de maio, por volta do meio-dia, Bakhmut foi totalmente ocupada", disse Prigozhin no vídeo, acrescentando que os combatentes do grupo Wagner fariam varreduras na cidade tomada antes de entregá-la ao exército russo.
"Por volta de 25 de maio, teremos vasculhado completamente (Bakhmut), criado as linhas de defesa necessárias, entregando-a aos militares", disse Prigozhin.
Tiros de artilharia puderam ser ouvidos ao fundo no vídeo de Prigozhin.
- "Bakhmut será libertada" –
A Ucrânia, que este mês reivindicou avanços em Bakhmut e seus arredores, informou mais cedo que a batalha não tinha terminado.
"Intensos combates em Bakhmut. A situação é crítica", postou a vice-ministra da Defesa ucraniana, Ganna Malyar, no Telegram.
"Neste momento, nossas defesas controlam certas instalações industriais e infraestruturas na região", afirmou.
A AFP não pôde verificar a veracidade destas informações.
O anúncio russo sobre a queda da cidade ocorreu antes da reunião do presidente Zelensky com o colega americano, Joe Biden, durante a cúpula do G7, no domingo.
Biden, que lidera o apoio dos países ocidentais à Ucrânia com sanções a Moscou e o envio de suprimentos a Kiev, "aguarda ansiosamente" pelo encontro, anunciou um alto funcionário americano, acrescentando que a reunião deve ocorrer após as 14h locais (02h de Brasília) de domingo.
No sábado, Zelensky fez uma aparição surpresa na cúpula em Hiroshima, em uma nova manobra diplomática um dia depois de ter participado da cúpula da Liga Árabe, na Arábia Saudita.
O presidente ucraniano, que viajou ao Japão a bordo de um avião do governo francês, reuniu-se não só com líderes do G7, mas também tenta se aproximar de outros importantes 'players' internacionais, como o premiê da Índia, Narendra Modi, com quem se reuniu neste sábado, e o presidente Lula, a quem pediu uma reunião bilateral, ainda não confirmada pelo Brasil.
Estes esforços diplomáticos já renderam frutos, com o anúncio feito pelos Estados Unidos na sexta-feira de permitir que Kiev receba caças F-16, os dispositivos militares mais sofisticados já fornecidos pelos ocidentais.
- TPI denuncia mandado de Moscou –
"A operação para tomar Bakhmut - o moedor de carne de Bakhmut - durou 224 dias", disse Prigozhin, vestindo uniforme camuflado. As perdas russas teriam sido muito menores se não fossem generais incompetentes, acrescentou.
Acredita-se que o grupo Wagner, que encabeçou os combates por Bakhmut, tenha sofrido grandes perdas na ocupação da cidade. Prigozhin sempre reclamou que o grupo Wagner não estaria recebendo as quantidades adequadas de munição.
"Só há (membros do grupo) Wagner lá (em Bakhmut)", disse ele no vídeo. "Nós combatemos não só o exército ucraniano aqui, mas também a burocracia russa".
Ele culpou o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, e o chefe de estado-maior, Valery Gerasimov, por terem transformado a ofensiva em "seu próprio entretenimento".
Os dois lados agora aguardam a contraofensiva anunciada pelos ucranianos, que são apoiados pelos suprimentos de armas enviados pelo Ocidente. Zelensky disse recentemente que seu exército precisa de mais tempo para iniciar o ataque.
Neste sábado, o Tribunal Penal Internacional (TPI) denunciou a medida "inaceitável" tomada por Moscou de incluir seu procurador, Karim Khan, em uma lista de pessoas procuradas por ter emitido uma ordem de prisão contra o presidente russo.
"A corte continuará com o desempenho de seu mandato legal de garantir a prestação de contas pelos crimes mais graves", indicou, em nota, o tribunal com sede em Haia, na Holanda.
(T.Renner--BBZ)