Estabilidade fiscal e crescimento, a receita de sucesso para a América Latina, diz FMI
O Fundo Monetário Internacional (FMI) recomenda que a América Latina vincule consolidação fiscal e reformas para fomentar o crescimento porque, embora tenha se recuperado da pandemia melhor do que o esperado, arrasta uma dívida pública e níveis de pobreza elevados.
"A região demonstrou resiliência" devido em parte aos avanços no fortalecimento dos marcos macroeconômicos, declarou nesta sexta-feira (19) Rodrigo Valdés, diretor do Fundo Monetário Internacional para a América Latina e o Caribe durante coletiva de imprensa.
Mas como boa parte dos países beiram seu potencial, a atividade "se moderou" nos últimos trimestres, explica.
O Fundo prevê que a economia regional vá crescer 2% este ano, em comparação com 2,3% em 2023.
Por países, as previsões de crescimento são díspares: Brasil 2,2%; México, 2,4%; Bolívia, 1,6%; Colômbia, 1,1%; Equador, 0,1%; Paraguai, 3,8%; Peru, 2,5%; Uruguai, 3,7%, e Venezuela, 4%. América Central vai crescer 3,9% e o Caribe, 9,7%.
O PIB da Argentina vai diminuir 2,8% este ano em meio ao ajuste fiscal, realizado pelo governo do presidente ultraliberal Javier Milei, avalia a organização na atualização de suas previsões, publicada esta semana.
Há várias notícias positivas: a inflação "está recuando" em parte pelos efeitos das políticas estritas de juros dos bancos centrais, e se espera que "continue caindo" ao longo do ano, afirma Valdés. Além disso, o desemprego "está em níveis historicamente baixos".
"Nossa opinião é que a flexibilização da política monetária deve continuar", mas será preciso alcançar um equilíbrio entre manter a inflação sob controle e evitar uma contração econômica, acrescentou.
- A 'peça central' -
No lado negativo da balança, a região arca com "uma dívida pública em níveis elevados", assim como o eterno lastro da pobreza e da desigualdade.
É preciso um "ajuste fiscal" contra a dívida pública, que ao mesmo tempo ajudaria a normalizar a política monetária muito mais rápido, avalia Valdés. Mas deve ser feito protegendo "o gasto social chave".
Porque "manter a coesão deveria ser uma peça central dos planos de consolidação fiscal, dados os níveis ainda altos de pobreza e desigualdade da região", insiste.
A política fiscal não pode ser a única solução aos problemas econômicos regionais, mas urge "tomar medidas para aumentar o crescimento potencial", avalia o alto dirigente da organização financeira.
É que o crescimento econômico da América Latina e do Caribe no médio prazo será de cerca de 2%, muito abaixo dos índices de economias análogas de outras regiões.
Os governos devem identificar "reformas estruturais", sem perder de vista as "estratégias de mudança climática integrais e bem sequenciadas" para impulsionar o crescimento, inclusive mediante o investimento em minerais verdes e setores energéticos, explica o economista chileno.
Para aumentar a produtividade é preciso limitar o mercado informal e fomentar o crescimento empresarial, mas também "reduzir o crime e a violência, problemas na região", afirma.
Ao menos 117.492 pessoas foram mortas na América Latina e no Caribe em 2023, o que equivale a uma taxa de homicídios de 20 por 100 mil habitantes, segundo o último balanço anual publicado pela fundação InSight Crime. É muito provável que o número real seja maior porque os dados em muitos países são inexistentes ou pouco confiáveis.
(K.Jones--TAG)