Comércio pelo Canal de Suez caiu 42% nos dois últimos meses, diz ONU
O comércio que transita pelo Canal de Suez caiu 42% nos dois últimos meses, alertou, nesta quinta-feira (25), uma agência da ONU, ao advertir que os ataques a navios no Mar Vermelho se somam à tensão em outras rotas marítimas como o Canal do Panamá, afetado pelas mudanças climáticas.
"Preocupa-nos que os ataques ao transporte marítimo no Mar Vermelho adicionem tensões a um contexto de perturbações do comércio mundial devido à geopolítica e às mudanças climáticas", como no Canal do Panamá, advertiu, nesta quinta, Jan Hoffmann, encarregado de logística comercial da Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD).
Os ataques, iniciados em novembro passado pelos rebeldes huthis do Iêmen no Mar Vermelho, em protesto à situação em Gaza, levaram muitas companhias de navegação a optarem por circundar a África do Sul, o que aumenta os custos e as tarifas do frete marítimo, repercutindo nos preços da energia e dos alimentos, lembrou o funcionário.
Os tráfegos semanais de porta-contêineres caíram 67% em relação há um ano, o de petroleiros, 18%, e o de graneleiros de carga seca - que transportam, por exemplo, cereais ou carvão -, 6%.
Segundo Hoffmann, os gaseiros, que transportam gás natural liquefeito (GNL), pararam de transitar pelo Canal de Suez, no Egito, por onde circulavam aproximadamente de 12% a 15% do comércio global.
"Normalmente, há entre dois e cinco gaseiros por dia. O último foi em 16 de janeiro", disse.
Estas dificuldades fizeram disparar os preços do frete.
As tarifas médias de transporte marítimo de contêineres partindo de Xangai subiram 122% desde o começo de dezembro e desta cidade chinesa para a Europa aumentaram 256% e para a costa oeste dos Estados Unidos, 162%.
Além da guerra na Ucrânia e de outras tensões geopolíticas que reconfiguraram as rotas comerciais de petróleo e cereais, o funcionário citou a seca persistente que afeta o Canal do Panamá.
O nível da água - que chegou a níveis mínimos em décadas - reduziu o número e o tamanho dos navios que podem circular por esta via vital para as cadeias de abastecimento, disse em videoconferência à imprensa de Nova York.
No mês passado, lembrou, o tráfego pelo Canal do Panamá foi 36% menor ao de um ano atrás e 62% menor que há dois anos.
A marinha mercante transporta cerca de 80% das mercadorias do comércio mundial, e o percentual é ainda maior no caso dos países em desenvolvimento, afirmou.
"Estas perturbações evidenciam as vulnerabilidades do comércio mundial às tensões geopolíticas e aos problemas climáticos", afirmou Hoffmann.
A UNCTAD estima que cerca da metade do aumento dos preços dos alimentos observado em 2022, coincidindo com a invasão russa da Ucrânia, se deveu ao encarecimento do transporte.
(A.Thompson--TAG)