Navio de carga que zarpou da Ucrânia se aproxima de Istambul, apesar do bloqueio russo
O primeiro navio de carga a deixar a Ucrânia após o fim do acordo de grãos e cereais avançava em direção à Turquia na tarde desta quinta-feira (17), apesar do bloqueio russo, de acordo com sites de navegação.
O navio "Joseph Schulte", de bandeira de Hong Kong, deixou o porto ucraniano de Odessa (sul) na quarta-feira, apesar da ameaça russa de afundar qualquer embarcação que descumprisse sua decisão, tomada no final de julho, de encerrar o acordo que permitia a exportação de grãos ucranianos.
O navio chegará "provavelmente esta noite" a Istambul, disse um porta-voz do grupo Schulte, com sede em Hamburgo, à AFP nesta quinta-feira.
O navio usa "um novo corredor humanitário" estabelecido pela Ucrânia, afirmou o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.
No último fim de semana, a Rússia disparou tiros de advertência contra um navio de carga que se dirigia para Izmail, um porto do Danúbio, no sul da Ucrânia.
Moscou intensificou seus ataques contra as infraestruturas portuárias ucranianas no Mar Negro e no Danúbio desde que se retirou do acordo, que estava em vigor desde julho de 2022, quatro meses após o início da invasão da Rússia à ex-república soviética.
Negociado com a mediação da ONU e da Turquia, o acordo permitia o transporte de grãos ucranianos a partir do sul do país.
Ucrânia e a Rússia são grandes exportadores de cereais e óleos vegetais. O acordo ajudou a baixar os preços mundiais dos alimentos e garantiu à Ucrânia uma importante fonte de renda para os esforços bélicos.
O novo corredor "será usado, principalmente, para evacuar navios que estavam no porto no momento da invasão russa" em fevereiro de 2022, anunciou o ministro de Infraestruturas da Ucrânia, Oleksander Kubrakov.
- Nova iniciativa dos Estados Unidos-
Segundo The Wall Street Journal, as autoridades americanas negociam com Turquia, Ucrânia e seus vizinhos o aumento do tráfego no Danúbio, que deságua no Mar Negro na fronteira entre Ucrânia e Romênia.
Uma autoridade americana disse ao jornal que Washington consideraria todas as opções, incluindo o fornecimento de uma escolta militar para os navios ucranianos.
Mas um funcionário do Ministério da Defesa turco pareceu descartar essa alternativa.
"Os nossos esforços se concentram em reativar o acordo de grãos", disse o responsável, que pediu anonimato, ao canal privado turco NTV.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, planeja se reunir este mês com seu homólogo russo, Vladimir Putin, e a possível retomada do acordo de grãos deve estar na agenda de suas discussões.
- "Contraofensiva diplomática" -
A Rússia se retirou do acordo, alegando que o dispositivo não havia atingido seu objetivo de abastecer os países afetados pela fome, especialmente na África.
Desde então, o Kremlin pediu ajuda à Turquia para exportar seus próprios grãos para os países africanos, deixando a Ucrânia de lado.
A África se tornou palco de uma batalha diplomática entre os dois beligerantes.
O chanceler ucraniano, Dmitro Kuleba, destacou, em entrevista à AFP, o "trabalho sistemático e de longo prazo" de seu país para reduzir a influência de Moscou no continente, baseada, segundo ele, em "coerção, corrupção e medo".
"Nossa estratégia não é substituir a Rússia, mas libertar a África de seu domínio", enfatizou.
As tentativas da Rússia de controlar as rotas marítimas do Mar Negro coincidem com a contraofensiva da Ucrânia lançada em junho para libertar os territórios ocupados pela Rússia.
Esta semana, Kiev anunciou que havia recapturado Urozhain, uma cidade na frente sul.
A Ucrânia tenta alcançar sua costa sul e cortar o acesso de Moscou à península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014. Ainda assim, os ganhos da Ucrânia permanecem modestos após dois meses de combates. O Exército ucraniano também enfrenta dificuldades no nordeste, próximo a Kupiansk.
Apesar disso, Kuleba afirma que a Ucrânia "não sente" pressão por parte de seus aliados ocidentais, que lhe forneceram armas e treinamento militar para que alcançasse resultados rápidos.
(A.Lehmann--BBZ)