Nicarágua bloqueia negociação de declaração final da cúpula UE-Celac
As negociações entre a União Europeia (UE) e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) para chegar a uma declaração final na cúpula de Bruxelas foram bloqueadas nesta terça-feira (18) pela resistência da Nicarágua em aceitar uma menção à Ucrânia no texto.
"Todos os membros da Celac estão alinhados, exceto a Nicarágua", declarou o presidente francês Emmanuel Macron nesta terça-feira.
O bloco europeu insiste em incluir no texto final uma menção à Ucrânia, que enfrenta uma invasão russa desde fevereiro de 2022.
"Para dizer o mínimo, a Nicarágua reluta em assinar o texto", disse Macron.
O impasse das negociações sobre uma fórmula de consenso no segundo e último dia do encontro destacou o desafio de reunir posições comuns entre a UE, um bloco altamente institucionalizado, e um foro heterogêneo de 33 países como a Celac.
Essa disputa ofuscou uma cúpula pensada como uma oportunidade para revitalizar os laços e deixou em segundo plano um importante anúncio de investimentos do bloco europeu, além de um encontro arquitetado pela França entre o governo venezuelano e a oposição, e debates comerciais e desafios como a mudança climática.
Também prejudicou um debate promovido pelos países caribenhos sobre as reparações por séculos de colonialismo e escravidão infligidos pelas potências europeias.
O presidente do Chile, Gabriel Boric, pediu a divulgação da declaração final, durante seu discurso perante a sessão plenária dos países, que ocorreu a portas fechadas, mas cujo vídeo vazou para a imprensa chilena.
"Neste lugar, a situação na Ucrânia está em debate. Acho importante que, na América Latina, digamos claramente: o que está acontecendo na Ucrânia é uma guerra inaceitável de agressão imperial", disse Boric.
As discrepâncias em torno da questão da Ucrânia e qual é a solução para o conflito ficaram evidentes nos discursos do primeiro dia.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou na segunda-feira sua posição de que o Brasil apoia "uma paz negociada".
"Recorrer a sanções e bloqueios sem o amparo do direito internacional serve apenas para penalizar as populações mais vulneráveis", ressaltou Lula, referindo-se a medidas adotadas por várias potências, incluindo a UE.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, destacou que "não se deve permitir que a Rússia vença" porque isso "será uma receita para o desastre do multilateralismo".
- Reunião entre governo e oposição da Venezuela -
À margem do encontro de cúpula, a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, e o líder opositor Gerardo Blyde se reuniram na segunda-feira com os presidentes da França, Argentina, Brasil e Colômbia, para discutir uma fórmula para que as eleições presidenciais do próximo ano sejam reconhecidas pela comunidade internacional.
A reunião convocada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, teve a participação de Lula, do colombiano Gustavo Petro e do argentino Alberto Fernández, além do chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell.
De acordo com Borrell, a discussão centrou-se em como "promover eleições de forma inclusiva, eleições livres que possam ser reconhecidas pela comunidade internacional".
Na semana passada, o principal negociador do governo e presidente do Parlamento venezuelano, Jorge Rodríguez, descartou o envio de uma delegação eleitoral da UE para as eleições de 2024, depois que o bloco europeu expressou "preocupação" com a inabilitação da pré-candidata opositora María Corina Machado.
- Associação com o Chile -
Neste cenário, a UE tentou estabelecer uma aproximação com o anúncio na segunda-feira de um plano de investimento de 45 bilhões de euros (50,5 bilhões de dólares, 242,44 bilhões de reais) por meio do programa Global Gateway.
Com o programa de investimentos, a UE pretende exercer um contrapeso à presença cada vez mais intensa da China na América Latina.
No âmbito dos objetivos de aproximação estratégica, UE e Chile assinaram um memorando de entendimento para uma associação estratégica na cadeia de valor das matérias-primas, com as atenções voltadas para o desenvolvimento da exploração do lítio, vital para a transição energética.
A expectativa inicial do bloco europeu era de que a cúpula fosse um momento para a assinatura do acordo com o Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai), travado após uma série de negociações iniciadas há mais de duas décadas.
O desmatamento e as questões ambientais são obstáculos para um acordo, mas a presidente da Comissão Europeia e Sánchez destacaram que esperam o fim das negociações no segundo semestre do ano.
(G.Gruner--BBZ)