Banco Central mantém Selic em 13,75%, sem sinal de cortes
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a Selic, sua taxa básica de juros, em 13,75% nesta quarta-feira (21), alertando, em nota, para um aumento da inflação no segundo semestre do ano, apesar da moderação atual.
Sem qualquer sinal de quando começará a reduzir os juros, e apesar da pressão do governo Lula, o Copom manteve a taxa básica inalterada pela sétima vez consecutiva, desde agosto de 2022.
A decisão "é compatível" com a estratégia de convergência da inflação com a meta, que inclui o ano de 2024, assinalou o Copom na nota publicada ao final de sua quarta reunião do ano.
Mais de 120 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo jornal econômico Valor projetavam que o comitê não mexeria na Selic, embora antecipando sinais de declínio desde agosto.
Contudo, a nota do Copom não oferece indícios claros de avanços nesse sentido.
O comitê destacou que, "não obstante o arrefecimento recente dos índices de inflação cheia ao consumidor, antecipa-se uma elevação da inflação acumulada em doze meses ao longo do segundo semestre".
Por isso, o cenário "segue demandando cautela e parcimônia", segundo o Copom.
Desde a posse de Lula em janeiro, o governo vem defendendo uma redução da Selic, argumentando que os juros elevados encarecem o crédito, desestimulando o consumo e os investimentos, o que prejudica o crescimento econômico.
Após numerosos embates com as autoridades do Banco Central, Lula insistiu na véspera da reunião do Copom: "Apenas o juro precisa baixar, porque [o nível atual] também não tem explicação", disse.
O preço da "carne baixou, em alguns lugares já baixou 27% [...] As coisas estão baixando, e precisam baixar muito mais. A inflação está baixando", justificou o presidente.
Em maio, a inflação foi de 0,23%, e de 3,94% no acumulado em 12 meses, ficando abaixo do limite máximo da meta anual do Bacen (4,75%).
No entanto, o Copom mantém os olhos voltado para as projeções de inflação do mercado para o fim deste ano, de 5,12%, segundo o boletim Focus do Banco Central. E as de 2024, por volta de 4%, com base no mesmo boletim.
- 'Paciência' -
A taxa de juros real do Brasil, ou seja, descontando inflação projetada para os próximos 12 meses, é de 7,54%, a mais alta do mundo, segundo o site especializado MoneYou.
Além disso, a taxa nominal é a segunda maior do planeta, atrás apenas da Argentina (97%).
Entretanto, o Bacen conduzirá a política monetária com "paciência e serenidade", segundo o comunicado da entidade, baseando seus passos futuros em indicadores econômicos e expectativas de longo prazo.
A Selic chegou a 13,75% após uma série de aumentos consecutivos desde março de 2020, quando estava em um piso histórico de 2%, até agosto de 2022.
Além das críticas de Lula, o setor industrial voltou a manifestar descontentamento com o atual patamar da Selic.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) afirmou em nota que "nada justifica o Brasil seguir com o título de campeão mundial de juros reais".
"Juros altos despropositados empobrecem o país. Famílias e empresas estão endividadas e o crédito está caro e escasso. Esse ambiente hostil compromete o futuro do Brasil", onde "a dinâmica inflacionária está contida", declarou a Fiesp na nota assinada por seu presidente, Josué Christiano Gomes da Silva.
No mesmo sentido se manifestou a Confederação Nacional da Indústria (CNI), ao considerar "equivocada" a decisão do Copom, que "impõe riscos adicionais para atividade econômica".
O resultado do PIB surpreendeu no primeiro trimestre, com expansão de 1,9%, indo contra os prognósticos de crescimento baixo por conta dos juros altos.
A expectativa do PIB melhorou para 2,14% este ano, contra 1,20% há um mês, segundo o boletim Focus.
Além disso, o Copom destacou um clima "adverso" no ambiente externo.
Por exemplo, o Federal Reserve dos Estados Unidos (Fed, banco central) interrompeu na semana passada seu ciclo de aumentos nas taxas de juros, que estão na faixa entre 5 e 5,25%.
Mas o presidente do Fed, Jerome Powell, disse nesta quarta-feira ao Congresso americano que espera continuar aumentando os juros, porém de forma mais lenta.
(A.Lehmann--BBZ)